“É um absurdo incluir alunos com necessidades especiais escola regular! Física eu até entendo… Mas Intelectual! Eu vou ter que atrasar toda a matéria porque não posso continuar o conteúdo até que todas as crianças aprendam.” E assim começou a minha discussão com um estudante de História, um futuro professor. Simplesmente eu não pude me calar e aceitar a realidade que alguns educadores ou futuros educadores de nosso país tenham uma visão tão limitada. Eu poderia superar esse discurso vindo de qualquer pessoa, MENOS de um educador (no caso um futuro educador).
Definitivamente, e infelizmente, brigar sobre o tema se tornou quase uma atividade em minha vida. Infelizmente há tantas e tantas pessoas desinformadas que proferem discursos de preconceito, sem sequer compreender o conteúdo de suas palavras. Em outros casos, há discursos de pessoas que, desacreditadas com a falsa inclusão até então promovida em nosso país, se dizem contra ela, sem se darem conta que na realidade são aversivas às ineficiências de um sistema educacional carente.
A inclusão traz grande benefício para o incluído. E, em se tratando de crianças autistas, os ganhos são imensos: a escola é um ambiente de socialização, sendo perfeita para explorar a capacidade de se relacionar da criança; a criança autista terá exemplo no comportamento típico, facilitando a apreensão desse comportamento em seu cotidiano; será pedagogicamente estimulada a acompanhar os alunos típicos, abrindo espaço para um desenvolvimento mais amplo de suas habilidades.
Evidentemente que uma coisa é simplesmente colocar um aluno com necessidades especiais em uma escola típica, e outra completamente diferente é incluí-lo de fato. Em certos casos é impende a adaptação de material e de abordagem de ensino. A realidade é que nosso sistema de ensino não está preparado para isso no momento. Todavia, não incluir pela falta de preparo do sistema é premiar o descaso para com a educação de tantas e tantas crianças ditas “atípicas”. A força da lei em obrigar os colégios a receberem alunos com deficiência física e intelectual obriga o Estado e as Instituições de ensino a cumprir seu papel de inclusões.
E é nesse momento que nós, pais de crianças com necessidades especiais, devemos realizar o importantíssimo papel de fiscalizar os métodos de inclusões realizados pelas escolas e exigir uma inclusão efetiva, nem que para isso tenhamos que recorrer ao judiciário. O direito de inclusão existe, a necessidade também, sendo que cabe a nós lutar pelo espaço que nossos filhos merecem.
Sei que muitos pais estão desacreditados da possibilidade de ter seus filhos verdadeiramente integrantes de um sistema de ensino regular. Escolas afirmando que não é necessário tutor quando os médicos reafirmam o contrário; falta de adaptação de material escolar; exclusão; preconceito… E a esses pais digo: Entendo sua dor. Não estão sozinhos. Tantos e tantos pais estão com vocês nesse desafio, nesse caminho árduo.
Mas se me permitem dizer, desistir ou desacreditar da inclusão é apenas aceitar que a sociedade exclua nossos pequenos. Então o que fazer? Brigar, e exigir – de todas as formas – para que os direitos sejam cumpridos. É claro que é um caminho cansativo. É claro que é um projeto árduo. Sei que muitos pais e mães estão cansados dessa luta pela inclusão, que parece não ter fim.
Ao que parece, nunca teremos um país com instituições de ensino preparadas para receber autistas se aceitarmos o despreparo, se nos calarmos diante do desrespeito com o direito de nossos filhos. Se você desistiu da inclusão, não lhe condeno; afinal, ter um filho autista representa por vezes muita luta diária com uma sociedade bastante injusta e nós, pais, somos simplesmente humanos – passiveis de cansaço, de medo, de desgosto. Mas se você ainda não desistiu, ou se estiver disposto a mudar de ideia, saiba que o seu empenho em transformar a inclusão em realidade será recompensado através do aumento da possibilidade de desenvolvimento de seu filho, bem como de gerações futuras de autistas, que terão um Brasil melhor para se desenvolver.
Ao contrário do que muitos pensam, a inclusão não beneficia apenas crianças atípicas, as crianças a serem incluídas. Incluir é também auxiliar uma criança dita “típica”. A sociedade não é composta apenas pelo comum, por aquele que consideramos normal. Na sociedade encontramos pessoas autistas, pessoas com Síndrome de Down, pessoas com déficit de atenção, pessoas diferentes de nós. Teremos que lidar com essas diferenças dentro do nosso trabalho e em nossa casa. Se a escola tem o intuito de preparar as crianças para o seu futuro, faz parte desse preparo conseguir entender o diferente. Assim, digo aos pais de crianças típicas: a inclusão de minha filha autista em escola regular ajuda seu filho a se desenvolver como cidadão.
Preparar para a vida adulta não representa apenas saber fazer contas matemáticas, entender a tabela periódica, saber os principais fatos históricos. Transformar-se em cidadão é acima de tudo saber viver em sociedade e, para isso, precisamos aprender a entender o diferente. Ter crianças com “deficiência” em sala é ensinar que o diferente é normal, e mais, que o diferente é legal e pode ter muito a ensinar. Lidar com pessoas com necessidades diferentes das nossas desde a primeira infância faria de nós muito melhores e é essa oportunidade que deve ser dada a todas as crianças de nossa sociedade.
Quando o professor tiver que ensinar uma matéria e na sala houver alunos atípicos e típicos, terá o educador de procurar acrescentar a sua forma de ensinar outros recursos. O acréscimo desses recursos com toda certeza ajudará os alunos típicos, visto que tantas crianças típicas têm dificuldade de aprendizagem por falta de identificação com os métodos tradicionais de ensino encontrados na maioria das escolas do país.
Outra questão importante é que as crianças de hoje serão os pais e mães de amanhã. Se ensinadas desde pequenas a ver o diferente como normal, terão muito mais facilidade em lidar com seus filhos, sejam eles ditos típicos ou atípicos. Nós, pais de crianças autistas, com certeza teríamos tido muito mais facilidade de lidar com o TEA de nossos filhos se desde pequenos estivéssemos em contato com crianças e adolescentes autistas em nosso convívio social.
Poderíamos seguir tantas e tantas linhas falando sobre o tema. Todavia, quando se fala de inclusão, o principal é termos em mente que a lei e as pesquisas científicas apontam o caminho: inclusão escolar ajuda a criança a ser incluída, os alunos considerados atípicos e – principalmente – constrói uma sociedade mais justa e mais igualitária. Agora é hora de transformar esse direito em realidade e, para tanto, sua participação é essencial (seja você pai de crianças com deficiência, educador ou simplesmente cidadão). Escola inclusiva já!
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