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Qual o melhor presente para meu filho autista?

por S. (Foto: )

Já perdi as contas de quantas vezes cheguei com um presente para Gabriela e ela simplesmente ignorou. Comprar presente para minha filha mais nova (Débora, que não possui autismo) é a maior facilidade, pois basta eu ver algo com classificação etária para idade dela que possua a foto de algum personagem que ela goste, como Peppa Pig, Masha e o Urso, Mickey). Agora a Gabi é uma missão de guerra.

A questão não é só pensar no que ela gosta, mas em algo que ela gosta e que estimule seu desenvolvimento. E casar as duas coisas nem sempre é fácil. Nunca vou me esquecer de quando comprei para ela uma casa de bonecas de três andares. Estava empolgada, me sentindo a melhor mãe do mundo. Ela olhou, falou “uma casa de boneca” e foi para seu quarto. A expressão em seu rosto era de um tédio sem fim!

E lá fui eu para o quarto dela, carregando a casa de bonecas. Toda família sentada na frente da casa de bonecas, brincando para ver se ela se interessava… e nada. Frustração total. Mas piora! Eu tinha prometido a ela que ela iria receber um presente super legal. No final do dia, antes de dormir, ela olhou para mim com cara de “cadê” e disse “presente”. Eu disse, tá ali, apontando para casa de bonecas. Ela olhava a casa de bonecas e olhava para mim, olhava a casa de bonecas e olhava para mim… Numa clara expressão de “sério que isso é o presente?”.

Na minha cabeça, a casa de bonecas era o presente perfeito, porque estimulava o lado lúdico e é algo grande e vistoso, que brilha nos olhos da criança. Não para ela! Durante cerca de um mês, eu desisti da casa de bonecas. Mas um dia, vendo aquela casa abandonada, pensei: “isso não vai ficar assim”.

Recortei uns tecidos e fiz o lençol para a cama da boneca, almofadas para as cadeiras, comprei uma mini banheira de plástico, coloquei espuma na banheira de plástico, imitando água. Eu ia colocando coisinhas e brincava um pouquinho por dia com ela. Coisa de um minutinho. Um minuto que virou dois, que virou três, que virou quatro. Hoje ela procura a casa de bonecas. Brinca de forma lúdica e bonitinha.

Essa experiência abriu minha mente com relação a como comprar brinquedos e presentes para a Gabi. Eu sigo algumas regrinhas que criei e que têm dado certo. Espero que sejam direcionamentos úteis para vocês:

(1) Antes de comprar o brinquedo, penso muito se não é um brinquedo que vai dar margem a uma estereotipia ou um comportamento repetitivo. Procuro brinquedos lúdicos e que possam ser usados de forma funcional. Nada de coisas de colecionar. Tudo que possa ser usado com uma função.

(2) Não crio expectativa para a Gabriela sobre o brinquedo que vai ser dado. Não falo para a Gabi que ela vai ganhar “um brinquedo super legal”, mas sim que ela vai ganhar um brinquedo. Por que isso? Porque, se você adianta para seu filho que vai ser “o máximo” e ele acha “meia boca”, você fica em maus lençóis. Além disso, você perde uma bela oportunidade de ensiná-lo a pontuar seus sentimentos. Quando a Gabi ganha um brinquedo e gosta (o que podemos observar pela reação da criança ao brinquedo), eu pontuo para ela que ela “achou legal”, que ela “gostou”. Por outro lado, quando ela não liga, eu pontuo para ela que ela “não gostou”. Assim, ela vai aprendendo o sentido de gostar e não gostar, conseguindo dar nome ao sentimento de satisfação, indiferença ou frustração.

(3) Não crio expectativas para mim diante do brinquedo que vai ser dado. Desde o momento em que escolho o brinquedo, fico repetindo para mim mesma, tal qual um mantra: “tudo bem se ela não gostar”.

(4) Tenho cuidado com grandes investimentos em brinquedos. Brinquedo não está a coisa mais barata do mundo. Esses dias, fui à loja de brinquedos e perguntei um valor de um skate meio diferente. Quando me responderam, disparei: “Ok. Agora eu quero saber o preço só do skate, sem que venha um skatista profissional junto”. Outra vez, eu pedi para consultar o valor de um Furby. Quando veio o preço, não me contive: “vocês aceitam imóvel de entrada? Parcelam o restante em 36 vezes?”. A moça da loja me respondeu: “Mas Sra., esse é o ‘Furby Conect nova geração’”. Mas, pelo preço o mínimo é que esse “Furby Conect” se conecte com os mortos, trazendo mensagens de conforto dos entes queridos que já se foram. Agora, imagina se você compra o tal “Furby Conect” e seu filho não gosta? Vai ser um trauma… Para você, no caso. Então, se for fazer um investimento maior em brinquedos, tenha certeza que é isso que seu filho quer. Leve-o algumas vezes à loja, apresentando o brinquedo para ele, para ver como ele se manifesta, ao invés de dar a ele um brinquedo que ele nunca viu e não tem ideia de como usar.

(5) Tenha paciência. Às vezes a criança, em um primeiro momento, rejeita o brinquedo por sua dificuldade de brincar com funcionalidade. Com toda a calma do mundo, vá ensinando seu filho a brincar com o objeto. Respeite o tempo da criança, ao mesmo tempo em que a desafia (sempre de forma divertida) a brincadeiras mais lúdicas, funcionais e complexas.

E, se estamos falando de brinquedos, é importante ressaltar que muitos brinquedos legais e extremamente lúdicos e educativos não são comprados em lojas. Criatividade pode ser o elemento mais divertido na sua casa.  Algumas ideias de brinquedos que têm um custo mínimo com uma possibilidade bem grande de sucesso com seu pequeno:

(1) Avião, fogão, geladeira, carro… tudo de caixa de papelão: com tesoura e criatividade você pode montar com seu filho esses brinquedos. O momento da montagem pode ser tão divertido quando o momento do uso.

(2) Argila: Sim, pode ser um presente! Além de ter um bom cunho de estimulação sensorial.

(3) Casa de palitos: Cola, palitos coloridos e você ao lado dele. Tem presente mais divertido?

(4) Carimbo de batata: Corte a batata em algum formato legal (estrela, coração, etc.) e a use de carimbo com tinta guache.

(5) Boliche com garrafas PET e bola de jornal.

Quando for fazer algum desses brinquedos (os quais exigem uma fase de montagem caseira), chame seu filho para participar. Mas respeite se ele não quiser se integrar nessa montagem, ou mesmo não quiser ir até o final do processo.

Lembre-se sempre: a sua presença, o seu amor, o seu carinho serão, sem dúvida, o maior presente que ele pode receber!

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