Hoje recebi a notícia de que a filha de uma amiga nasceu. Não sei se foi parto normal ou cesariana. Ela tinha muito medo de parir. Mas procurou informação, encontrou uma médica maravilhosa e, aos poucos, ganhou coragem. Torço para que tenha sido normal.
Quem lê esse blog aqui há algum tempo sabe o quanto sou partidária do parto normal — tive o José, o Bento e o Miguel por parto normal. Sei que parir causa uma revolução interna e defendo que ter filhos por parto normal no Brasil vai ajudar a mudar o sistema.
Não me impressiono quando escuto mulheres falando que nem imaginam passar por um parto normal. O sistema tem muita culpa nisso. Afinal, é tanta notícia de gestantes que passaram por maus bocados na hora de dar à luz que não dá para se assustar com a alta taxa de cesarianas do nosso país.
Quem quer passar por uma dor terrível e ainda ser desrespeitada? Quem quer ser submetida a uma tricotomia, lavagem intestinal ou ter parte do períneo cortado, quem sabe rasgado? Quem vai se arriscar a ser atendida pelo médico plantonista e encontrar uma pessoa sem paciência alguma? E quem tem R$ 1,5 mil no bolso para pagar a tal taxa de disponibilidade para o obstetra de confiança?
Não bastasse o medo que costuma haver do desconhecido, o sistema médico ainda apresenta todas essas possibilidades para a gestante. Pode ser que nada disso ocorra. Pode ser que ela receba o pacote completo de maldades — gritos, dor que não tem fim, horas de solidão, procedimentos desrespeitosos, um plantonista que não está disposto a acompanhar um trabalho de parto prolongado…
Mas, porque o sistema é assim, nós mulheres vamos nos privar do direito de trazer nossos filhos ao mundo por meio não cirúrgico? Talvez seja pedir muito para um momento tão especial, mas eu acredito que precisamos enfrentar o sistema e insistir por um parto normal — aqui, claro, não trato dos casos em que há risco evidente para mãe ou para o bebê. Para isso, informação e coragem são fundamentais.
Informação o suficiente para entender todos os sinais do corpo, saber dos seus direitos e dos deveres de quem te atende. Coragem para enfrentar a dor e o sistema que te diz para ir pelo caminho aparentemente mais curto. Temos que ser mais fortes que o sistema para fazer a revolução. Sem haver uma forte demanda, os hospitais não vão se esforçar para atender bem o parto normal e nada vai mudar.
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Em tempo, além do nascimento da filha da minha amiga, esse post foi motivado pelo anúncio do Ministério da Saúde de medidas para tentar reduzir a taxa de cesarianas no país — 8 em cada 10 melhores atendidas por planos de saúde passam por parto cirúrgico (veja reportagem aqui). Até que ponto essas medidas serão eficientes, não sei. Mas é um começo.
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