José Fernando nasceu de parto normal. Ao meu ver, foi tudo ótimo. Não me fizeram mil toques, o médico só me cortou depois de me perguntar se tudo bem — lembro até hoje de me perguntar por que ele estava me fazendo aquela pergunta. Corta logo e tira o menino daí, rapaz!, eu pensava — e não ficaram me chamando de mãezinha — se chamaram, eu não lembro.
A única parte que eu realmente não gostei foi de ter ficado longe do José Fernando por muito tempo — nem sei quanto — enquanto eu me recuperava da anestesia. Após o parto eu estava ótima, eufórica para ser bem sincera. Tudo que queria era pegar meu baixinho, dar de mamar, esquentar nos meus braços e entrar, enfim, na minha nova vida.
Agora, chegamos à segunda gravidez e eu achei que seria tudo igual. Tanto que nem pensava muito sobre o parto. Será normal como o do José Fernando, tudo vai se encaminhar para isso e ponto. Mas são gêmeos, e agora? Perdi uma noite de sono pensando sobre isso. Nunca pensei que eu teria tanto medo de enfrentar uma cesárea.
Para meu alívio, os meninos estão em bolsas de líquido amniótico diferentes, eu tenho um bom histórico e minha médica é super favorável ao parto normal — dizendo ela, já fez parto até de trigêmeos assim. Agora é torcer para os pequenos ficarem bem acomodados por aqui até chegarmos lá pela 38.ª semana e que encaixem no momento certo. Seguindo esse caminho, temos tudo para fugir da temida cesárea — torço diariamente por isso.
Em tempo, toda essa história sobre parto e medos é só porque fiquei inspirada pelo fato da princesa Kate Middleton ter tido o seu George Alexander Louis via parto normal. E olha que nasceu um baita de um bebezão, com mais de 3,5kg. Não foram divulgados mais detalhes sobre o parto — se ela tomou anestesia, teve de passar pela epísio, se o bebê foi para o seu colo assim que nasceu…
Mas quem dera fôssemos todas princesas — e não somos? — para ter acesso a uma equipe médica preparada que nos fizesse sentir seguras o suficiente para ter um filho via parto normal. É raro encontrar um médico que não te olhe meio desconfiado quando você diz que não quer cesárea. Quando encontra, a maior parte deles não atende pelo plano de saúde e é uma espécie de médico das estrelas.
Também temos os hospitais públicos. Onde os partos normais são mais comuns. Mas onde também são muitos os relatos de mulheres que sofreram com a falta de educação e paciência de enfermeiras e médicos, que não tiveram acesso a uma anestesia para a passagem — mesmo depois de pedirem muito — e por aí vai…
Claro que estou falando de extremos. No plano de saúde você encontra médicos que te acolhem bem mesmo depois que você diz que pretende tentar o parto normal — a obstetra que cuida da minha gestação é uma ótimo exemplo. Na rede pública também são muitos os bons e dedicados profissionais e frequentes as mães que passaram por um parto humanizado.
Mas os números não mentem, segundo dados da ANS, quase 80% dos partos feitos via plano de saúde são cesáreas. Na rede pública, esse número é de 27%. Os dados estão desatualizados, são de 2004. Mas muita coisa mudou desde então? Acho que. Embora tenhamos avançado bastante na discussão por um parto humanizado, ainda existem muitos obstáculos a serem vencidos. Só espero que o fato do bebê real chegado ao mundo via normal ajude essa causa a ganhar ainda mais espaço. Quem sabe um dia sejamos todas princesas na hora de dar à luz.