Como já escrevi aqui, José Fernando nasceu de parto normal. Um parto tranquilo, com dor tolerável durante toda a fase de dilatação (que durou poucas horas no hospital) e anestesia para o momento da passagem. Na sala de parto, estavam o obstetra, a médica que auxiliou o parto, a anestesista, a pediatra, o Emerson e, claro, eu. Seis pessoas distribuídas em uma sala pequena. Para cada canto que eu olhava, via alguém. Imagine se colocássemos mais duas pessoas naquela sala? Uma doula e um fotógrafo.
É muita gente para um momento tão particular. Em algumas tribos indígenas, as mulheres dão à luz com a ajuda apenas do companheiro ou de uma mulher mais velha. Em outras, elas têm o bebê sozinhas. Se é possível parir assim, na completa solidão, por que temos de encher a sala de parto cada vez mais?
Faz um tempo, alguns hospitais de São Paulo passaram a restringir a entrada das doulas. As maternidades fazem a gestante escolher: ou a doula ou o pai. Em certa medida, até concordo com a decisão. No entanto, esses mesmos hospitais que impedem a entrada da doula permitem que fotógrafos registrem o nascimento sem maiores problemas.
As restrições à presença da doula e a permissão de fotógrafos na sala de parto me parece uma incoerência que indica algo além de medidas para evitar uma infecção hospitalar – justificativa dada em relação às acompanhantes. Ao que me parece, na verdade, os médicos querem evitar interferências de pessoas que não são médicas, mas que têm algum conhecimento sobre gestação, na sala de parto.
Por mim, doulas e fotógrafos ficam do lado de fora. Assim como as transmissões ao vivo do parto e os quartos de maternidade que se transformam em espaços festivos – com direto até a champanhe — deveriam ser proibidos.
O nascimento de um filho, de fato, é um momento de muita alegria. Mas também é um momento íntimo, o instante em que uma família realmente está começando ou crescendo um pouco mais. Por que não ter esse momento só para vocês?
Intimidade. Está aí uma coisa que parece que deixaram do lado de fora das maternidades.