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– E aí, gata, o que achou?
– De quê?
– Não notou nada diferente?
– Não… Cortou o cabelo?
– Não! Presta atenção!
– Fez mais uma tatoo?
– Não! Olha direito, pô!
– Humm…
– Não olha pra mim, olha em volta!
– Desculpa, só vejo prédios…
– Isso! Presta atenção nos prédios!
– Nos prédios?
– É!
– Ah… Meu amor, eu não acredito! Você… – a voz da moça ficou embargada, os olhos, marejados.
– Sim! Gostou?
– Adorei, amei… Mas como foi que você conseguiu?
– Foi difícil, mas por você eu faço qualquer coisa!
– Nossa, eu te amo tanto!
– Eu também te amo!
– Depois dessa, eu tenho certeza de que você me ama mesmo! – disse a moça, beijando o amado.
– Se eu soubesse que você ia gostar tanto assim, teria feito antes!
– E eu achava que isso você não ia fazer nunca…
– Eu sempre quis fazer… Mas é difícil… Precisei planejar muito, mas finalmente rolou!
– Imagino! Eu nem sabia que você tinha condições de fazer uma loucura dessas!
– Foi complicado mesmo… Mereço muitas recompensas!
– Vou te recompensar para o resto da vida, meu amor! Mas me diz… Qual é o prédio?
– Ué?! Pensei que você tivesse visto…
– Como é que vou saber qual deles? São tantos!
– Tudo bem… É aquele ali, amarelo, tá vendo? – apontou o rapaz.
– Em que andar?
– No último! Olha lá!
– Na cobertura, amor! Que sonho…
– Gostou?
– É perfeito… Pena que tá um pouco pichado, mas a gente pode até cobrar do condomínio a pintura nova!
– Tá brincando?
– Não, é sério! Isso deve ser responsabilidade do condomínio. Como é que deixam um bobo desocupado escalar o prédio e pichar o último andar, sem fazer nada?! O síndico precisa tomar uma atitude! Aliás, o que você acha de eu me candidatar ao cargo de síndica?
– Mas… A pichação…
– É! Você não viu? Algum imbecil pichou o prédio, bem na altura do apartamento que você comprou pra gente, meu amor! Olha lá! Eu não consigo entender essas letras ridículas… Você entende o que está escrito?
– Está escrito: “Eu te amo, Ana! Quer casar comigo? Assinado: Trambolho”.
– Trambolho… Não é como os teus amigos te chamam?
– É, pô!
– Mas…
– E aí, quer casar comigo?
– Ai, meu Deus… Você não comprou o apartamento, né?
– Claro que não, como é que você foi pensar numa coisa dessas? Já foi difícil juntar grana pra comprar o spray…
– Droga! Era bom demais pra ser verdade…
– E aí, você aceita o meu pedido?
– Se eu aceitar, você para de pichar?
– Ai, ai, ai… Paro.
– E vai naquele prédio pedir desculpas e pintar a besteira que você fez?
– Vou! Por você eu faço tudo, eu já disse.
– Então eu caso com você! Mas tem mais uma condição!
– Manda…
– Quando a gente comprar uma casa, eu cuido da decoração. Você tem muito mau gosto pra essas coisas…

CARREGANDO :)

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Agudas

– Escrevi esse conto depois de ler a notícia de que foi publicada ontem (26), no Diário Oficial da União, a lei 12.408/2011, que proíbe a venda de tintas em embalagem aerossol – o spray – para menores de 18 anos. Assim, o spray só poderá ser vendido para maiores de idade, mediante apresentação de documento de identidade e nota fiscal emitida em nome do comprador. Tomara que funcione.

– Finalmente, a lei diferencia pichação de grafitagem. A prática de grafite, agora, deixa de ser crime se for “realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público e privado mediante manifestação artística, com consentimento de seus proprietários”. A pichação segue sendo considerada crime, com pena de detenção de três meses a um ano. Até concordo com a criminalização, mas discordo da pena de detenção (que já acho que deva ocorrer muito raramente). Quem picha deve ser condenado a consertar a pintura que estragou e ficar cadastrado pelo poder público como pintor (in)voluntário, sendo convocado periodicamente para consertar novas pichações e renovar a pintura de construções e espaços de uso comum.

– Quem comemorou a descriminalização da grafitagem foi meu irmão, Guilherme André Dias, que é artista visual e já estudou, na teoria e na prática, a tal da street art (arte de rua) e suas intervenções urbanas. Segundo ele, a grande diferenciação entre pichação (geralmente, rabiscos compreendidos apenas pelos próprios pichadores) e grafitagem (em geral, desenhos mais elaborados) fica mesmo na autorização do proprietário do imóvel, já que é subjetivo o julgamento do valor artístico de cada intervenção – o que é arte, o que não é. Particularmente, acho que a grafitagem bem feita é bacana, uma verdadeira forma de arte, como a que foi realizada na pista de skate na Praça do Redentor/Gaúcho. Já a pichação usual, aquele monte de riscos incompreensíveis… Bem, se alguém quiser ter sua própria casa coberta de rabiscos indecifráveis, tudo bem. Cada um na sua. Mas que não vá estragar a pintura da casa alheia e de prédios e monumentos públicos.

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