É desafio da Administração Pública o incentivo à leitura. Fazer com que o cidadão leia regularmente – criar o hábito de leitura – não é tarefa fácil. Ainda mais se não se tem acesso aos livros (ou assemelhados). Para piorar, livros, no Brasil, são caros – a despeito da imunidade tributária.
Para as escolas e universidades o desafio é muito maior. São grandes quantidades de livros a serem comprados. No caso dos cursos de Direito, por exemplo, em todos os anos urge a necessidade de atualizar títulos de uso contínuo, como manuais e cursos.
Para a educação pública, como resolver o alto custo orçamentário da aquisição de livros (os quais são, sem dúvida, imprescindíveis)?
Nos últimos anos vêm se popularizando novos instrumentos para a leitura: os leitores de e-books (os e-readers) e os tablets. Estes são multitarefa (com tela LCD), aqueles servem para leitura de livros, apenas (possuem tela e-ink). Cada um deles tem suas vantagens e desvantagens.
Os e-readers são baratos em comparação aos tablets. São menores e mais leves. São distraction-free, ou seja, o leitor só lerá – não jogará Angry Birds. Os tablets também servem para leitura, e permitem o acesso à internet, emails, etc, mas têm o inconveniente de excesso de informações simultâneas saltando aos olhos.
As escolas brasileiras estão iniciando a adoção dos tablets para fins didáticos, para alunos e professores. Ter um tablet na escola não significa muito, exceto se utilizado corretamente e se presente conteúdo suficiente e de qualidade.
Juliana Chevônica, mestranda em Direito da UFPR, disse-me, ontem, que possui um e-reader (um Kobo) e nele leva diversos livros jurídicos. Carrega, num pequeno aparelho, uma modesta – porém, valiosa – biblioteca adquirida em lojas online. Sempre tem os livros de que precisa no cotidiano acadêmico. Faz bom uso do aparelho eletrônico. Contudo, comprar livros, sejam impressos, sejam digitais, representa custo vultoso.
E se fosse possível apenas ler o livro e não, obrigatoriamente, adquiri-lo, ter seu domínio (seja do papel impresso ou do arquivo eletrônico)? Bem, isso já ocorre nas bibliotecas tradicionais, pois os leitores emprestam livros de papel. Porém, se José empresta o livro “A”, Thiago não pode emprestá-lo simultaneamente.
Há, nos EUA, bibliotecas digitais que imitam as tradicionais. Arquivos digitais com número limitado de licenças (p. ex.: cinco licenças permitem cinco empréstimos concomitantes). Os problemas persistem, nesse modelo (é preciso comprar licenças, poucos podem usufruir, ao mesmo tempo, do conteúdo.
Existe alguma solução ou, no mínimo, alternativa?
Algumas instituições de ensino brasileiras estão celebrando contratos sob um novo modelo de negócios: livros “na nuvem“. Os livros permanecem em ambiente virtual, podem ser usados por número determinado de pessoas – e não por número de licenças –, podem ser lidos por todos ao mesmo tempo, e o valor do serviço independe do número de títulos disponíveis, mas do número de usuários. Para rádios – música por streaming – funciona muito bem (serviços como Rdio, Spotify, por exemplo). O usuário paga pelo acesso, não pelo número de músicas ouvidas, e tem direito a ouvir todo o catálogo, quantas vezes quiser.
Enfim, solução para a escassez de livros existe. O cerne da questão é o dispêndio orçamentário. O valor cobrado “por aluno” pode ser mais atraente que o modelo de pagamento “por obra” ou “por licença”. Ademais, a instituição de ensino não precisará adquirir novos exemplares todos os anos, e deixará os títulos disponíveis para todos os alunos, simultaneamente.
Resta saber se os tablets distribuídos em instituições de ensino terão uso adequado: a efetiva leitura, pelos estudantes, do conteúdo disponibilizado.