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Diogo Schelp

Diogo Schelp

Política

A impossível estratégia petista de criticar a corrupção de Bolsonaro

controle social da mídia
Manifestante com máscara de Lula no Dia 1º de Maio de 2021 (Foto: NELSON ALMEIDA/AFP or licensors)

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À medida que o início da campanha para a eleição presidencial se aproxima, o PT se arrisca a adotar um discurso anticorrupção. A mais recente menção ao assunto ocorreu na manhã deste domingo (24), quando o perfil oficial do Partido dos Trabalhadores postou uma imagem com a frase "Com Bolsonaro a corrupção voltou", acompanhada do seguinte comentário: "Com tanto escândalo de corrupção envolvendo essa familícia, só lembramos de como é bom estar do lado certo da história. Agora a luta é reconquistar o Brasil para o povo brasileiro!" Parece incrível, mas é isso mesmo. O PT se considera moralmente apto a criticar a corrupção de Bolsonaro.

O próprio ex-presidente Lula, agora pré-candidato do PT a um terceiro mandato presidencial, vem batendo no prego da corrupção de Bolsonaro. Nos frequentes discursos que tem feito em eventos para a sua militância e em entrevistas, Lula chama Bolsonaro de corrupto e ousa dizer que no seu período no poder era diferente.

Em entrevista a uma rádio do Tocantins na semana passada, por exemplo, Lula disse que "foi durante o meu governo e da presidente Dilma que criamos todos os instrumentos para acabar com a corrupção do país" e que, quando havia denúncias, ele tinha "a honra" de mandar investigar. Pasmem.

Os três mandatos e meio do PT foram marcados por escândalos como o Mensalão e o Petrolão, este último considerado o maior esquema de desvio de dinheiro público e propinas já desvendado na história do país. Os acordos de leniência com as dezenas de empresas envolvidas na bandalheira do PT resultaram na recuperação de cerca de 25 bilhões de reais. Quer prova maior dos desvios?

Não há como o PT dizer que fez gestões limpas e, portanto, é impossível dar credibilidade a qualquer crítica que o partido e seus candidatos venham a fazer contra a corrupção de Bolsonaro.

Isso sem falar nas condenações de Lula, que além de ex-presidente é ex-presidiário. Condenado em primeira e segunda instâncias em dois processos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ele passou 580 dias em cana até o Supremo Tribunal Federal (STF) entender que não poderia ficar preso antes de esgotados os recursos.

A anulação das condenações de Lula pelo STF, há um ano, apesar de não discutir o mérito dos processos e absolvê-lo dos crimes, deu ao PT um forte argumento para o discurso de inocência do ex-presidente.

Mas, para uma boa parcela dos brasileiros que não se esquecem tão fácil, era e continua sendo difícil comprar esse discurso.

Como é possível, então, que Lula e o PT se vejam na condição de criticar a corrupção de Bolsonaro, com base especialmente nas acusações de rachadinha em gestões parlamentares anteriores dele e de seus filhos e nas denúncias recentes envolvendo o Ministério da Educação?

A explicação está na necessidade de criar uma narrativa contrária à campanha de Bolsonaro, que já vem demonstrando que pretende explorar bastante a ficha criminal de Lula — apesar de a corrupção não ser, atualmente, a principal preocupação dos eleitores.

O objetivo do PT é pegar carona nos fatos recentes, no noticiário quente a respeito das denúncias envolvendo o governo Bolsonaro, e ampliar de tal forma a associação entre corrupção e o presidente a ponto de enfraquecer os ataques com o mesmo teor no sentido contrário.

Os petistas esperam, com isso, alcançar resultados como o revelado em uma pesquisa do instituto Modalmais/AP Exata nas redes sociais, segundo a qual, no início deste mês, pela primeira vez a expressão "corrupção" apareceu mais vezes associada a Jair Bolsonaro do que a Lula em postagens no Twitter.

É esse efeito multiplicador que o PT quer conseguir com postagens como a deste domingo, em que afirma que, "com Bolsonaro, a corrupção voltou".

A estratégia, porém, esbarra no humor involuntário. Ou no reconhecimento de culpa. Se "a corrupção voltou", significa que o PT admite que havia roubalheira em seus governos.

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