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O presidente Lula disse, em entrevista na Etiópia, antes de retornar ao Brasil neste fim de semana, que "por uma questão de bom senso", seu governo não havia se manifestado sobre a morte do opositor russo Alexei Navalny, de 47 anos, em uma colônia penal no Ártico. "Para quê a pressa de acusar alguém?", foi a pergunta retórica de Lula, e continuou: "Se a morte está sob suspeita, nós temos de, primeiro, fazer uma investigação para saber do que o cidadão morreu. Vamos acreditar que os médicos legistas vão dizer ‘o cara morreu disso ou daquilo’."
O mais provável é que jamais saberemos do que morreu, de fato, Alexei Navalny. Sua família está há dias sem poder ver o corpo. A autópsia, se é que vão se dar a esse trabalho, será feita por médicos oficiais e o resultado passará pelo crivo do Kremlin. A ONU pede uma autópsia independente, mas é improvável que isso aconteça.
Navalny era um prisioneiro político submetido a condições duríssimas em uma prisão longínqua e gélida.
Mesmo que Navalny tenha morrido por causas naturais, no entanto, é possível apontar um culpado: o ditador Vladimir Putin e o seu regime. Navalny era um prisioneiro político submetido a condições duríssimas em uma prisão longínqua e gélida. Sua saúde foi sendo debilitada ao longo dos anos por uma sucessão de atentados contra a sua vida, aos quais sobreviveu por um fio, e por greves de fome na prisão. Em 2021, ele ficou 24 dias sem comer para protestar contra a recusa do regime de Putin em permitir que ele fosse examinado por um médico particular.
Navalny desconfiava dos médicos oficiais por um bom motivo. Ele sentia dores e dormências nos membros e no passado já havia sofrido atentados por envenenamento. Em uma dessas ocasiões, em 2020, ele passou mal durante um voo entre a Sibéria e Moscou. Foi levado para uma UTI e, depois de muita negociação, transferido para um hospital na Alemanha, onde ficou em coma induzido até se recuperar. Segundo as autoridades alemãs, ele havia sido envenenado por uma substância neurotóxica chamada Novichok, que havia sido colocada em sua cueca.
Apenas agentes russos altamente treinados seriam capazes de manusear material tão perigoso e plantá-lo na roupa do adversário de Putin. Posteriormente, Navalny conseguiu comprovar que de fato havia agentes do serviço de inteligência de Putin por trás do atentado contra ele. (Ele conseguiu arrancar uma confissão gravada em áudio de um dos agentes.)
Depois de se recuperar do envenenamento, ele retornou voluntariamente à Rússia, onde foi preso e condenado. O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos pedia sua libertação, pois considerava que sua vida estava em risco na prisão.
Outros opositores russos, nos últimos anos, foram eliminados silenciosamente. Um deles foi Boris Nemtsov, assassinado com quatro tiros nas costas, à luz do dia, enquanto passeava perto do Kremlin. Cinco homens foram presos e condenados pela morte, posteriormente. A motivação e os possíveis mandantes do crime, no entanto, nunca foram suficientemente investigados. Não será diferente com Navalny. Mas, direta ou indiretamente, já se tem um culpado.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos