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Diogo Schelp

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Política

Até que ponto Lula pode reivindicar mérito por crescimento de 2,9% no PIB

O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. (Foto: EFE/André Borges )

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O governo está comemorando o dado, divulgado pelo IBGE, de que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 2,9% em 2023 na comparação com o ano anterior. Lula e seus ministros consideram que o número é uma prova de que a economia em seu terceiro mandato está indo muito melhor do que previam os céticos. Isso porque muitos economistas, no início do ano passado, não estimavam mais do que 1% de crescimento para o ano. Batem no peito e dizem que é mérito do seu governo ou, como disse Lula, a “economia vai bem por conta da competência e do comportamento” de seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Quando a coisa vai mal no Brasil a culpa é do ministro da Fazenda. Quando as coisas vão bem no Brasil é por conta do presidente da República. Então é preciso equilibrar”, afirmou Lula, dando um jeito de fazer um duplo autoelogio ao dividir o "mérito" com Haddad, que obviamente foi escolhido por ele para o cargo.

A verdade é que o governo Lula está superestimando o próprio mérito pelo crescimento do PIB. O desempenho da economia deve mais a fatores sobre os quais o governo não tem o menor controle. Na maioria das vezes, se não atrapalhar, já está bom. A maior parte do crescimento de 2023 foi puxada pelo setor agropecuário, que cresceu mais de 15%, principalmente no primeiro semestre. Isso foi possível porque houve condições climáticas favoráveis, porque existiu um polpudo Plano Safra aprovado no ano anterior, no governo de Jair Bolsonaro, e porque o agro é um setor que consegue aumentar a produtividade de forma impressionante, com foco em aprimoramento técnico e investimento em tecnologia. Trata-se, portanto, de uma combinação de mérito próprio do setor, com condições naturais propícias e uma mãozinha do Estado.

No fundo, este e outros governos estão presos à mentalidade do voo de galinha. O objetivo é sempre ter um crescimento do PIB que dure até a próxima eleição.

O governo Lula teve o mérito de não atrapalhar e, como não é bobo, também apostou na mãozinha do Estado para repetir os números. Tanto que aprovou um Plano Safra 2023/2024, de apoio às lavouras, ainda maior. Mas as condições climáticas não ajudaram no final do ano passado e não serão tão favoráveis em 2024. Mesmo assim o agronegócio vai continuar sendo o motor da economia.

Outros setores que ajudaram, como o da indústria extrativista, e aí mais ainda estamos falando de commodities, que são impactadas por demanda internacional e, portanto, dependem de fatores sobre os quais o governo não tem nenhum controle.

Ainda falta, neste governo, assim como faltou em praticamente todos os anteriores, uma discussão sobre crescimento no longo prazo. O Brasil precisaria crescer em média 5% ao ano nos próximos 30 anos, como apontou editorial da Gazeta do Povo, para alcançar uma renda per capita próxima de uma país desenvolvido, ou seja, para tirar a população da pobreza. Estamos longe disso.

E o que seria necessário? Aumentar a produtividade na economia como um todo, não só no agronegócio, e isso significaria aumentar muito o grau de investimento.

Mas o governo só pensa em aumentar a arrecadação de impostos, porque se nega a enxugar o tamanho do Estado. E a carga tributária inevitavelmente tira dinheiro do empresariado que poderia ser investido nos seus negócios, por exemplo para adquirir bens de capital que melhoram a produtividade.

No fundo, este e outros governos estão presos à mentalidade do voo de galinha. O objetivo é sempre ter um crescimento do PIB que dure até a próxima eleição e que seja suficiente para que as pessoas tenham uma percepção imediata de melhoria de vida para ficar feliz com o governo e mantê-lo por mais quatro anos. Mesmo que não crie as condições necessários para que o país desenvolva todo o seu potencial, com um crescimento sustentável, que tire o país da inércia.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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