O governo está comemorando o dado, divulgado pelo IBGE, de que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 2,9% em 2023 na comparação com o ano anterior. Lula e seus ministros consideram que o número é uma prova de que a economia em seu terceiro mandato está indo muito melhor do que previam os céticos. Isso porque muitos economistas, no início do ano passado, não estimavam mais do que 1% de crescimento para o ano. Batem no peito e dizem que é mérito do seu governo ou, como disse Lula, a “economia vai bem por conta da competência e do comportamento” de seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Quando a coisa vai mal no Brasil a culpa é do ministro da Fazenda. Quando as coisas vão bem no Brasil é por conta do presidente da República. Então é preciso equilibrar”, afirmou Lula, dando um jeito de fazer um duplo autoelogio ao dividir o "mérito" com Haddad, que obviamente foi escolhido por ele para o cargo.
A verdade é que o governo Lula está superestimando o próprio mérito pelo crescimento do PIB. O desempenho da economia deve mais a fatores sobre os quais o governo não tem o menor controle. Na maioria das vezes, se não atrapalhar, já está bom. A maior parte do crescimento de 2023 foi puxada pelo setor agropecuário, que cresceu mais de 15%, principalmente no primeiro semestre. Isso foi possível porque houve condições climáticas favoráveis, porque existiu um polpudo Plano Safra aprovado no ano anterior, no governo de Jair Bolsonaro, e porque o agro é um setor que consegue aumentar a produtividade de forma impressionante, com foco em aprimoramento técnico e investimento em tecnologia. Trata-se, portanto, de uma combinação de mérito próprio do setor, com condições naturais propícias e uma mãozinha do Estado.
No fundo, este e outros governos estão presos à mentalidade do voo de galinha. O objetivo é sempre ter um crescimento do PIB que dure até a próxima eleição.
O governo Lula teve o mérito de não atrapalhar e, como não é bobo, também apostou na mãozinha do Estado para repetir os números. Tanto que aprovou um Plano Safra 2023/2024, de apoio às lavouras, ainda maior. Mas as condições climáticas não ajudaram no final do ano passado e não serão tão favoráveis em 2024. Mesmo assim o agronegócio vai continuar sendo o motor da economia.
Outros setores que ajudaram, como o da indústria extrativista, e aí mais ainda estamos falando de commodities, que são impactadas por demanda internacional e, portanto, dependem de fatores sobre os quais o governo não tem nenhum controle.
Ainda falta, neste governo, assim como faltou em praticamente todos os anteriores, uma discussão sobre crescimento no longo prazo. O Brasil precisaria crescer em média 5% ao ano nos próximos 30 anos, como apontou editorial da Gazeta do Povo, para alcançar uma renda per capita próxima de uma país desenvolvido, ou seja, para tirar a população da pobreza. Estamos longe disso.
E o que seria necessário? Aumentar a produtividade na economia como um todo, não só no agronegócio, e isso significaria aumentar muito o grau de investimento.
Mas o governo só pensa em aumentar a arrecadação de impostos, porque se nega a enxugar o tamanho do Estado. E a carga tributária inevitavelmente tira dinheiro do empresariado que poderia ser investido nos seus negócios, por exemplo para adquirir bens de capital que melhoram a produtividade.
No fundo, este e outros governos estão presos à mentalidade do voo de galinha. O objetivo é sempre ter um crescimento do PIB que dure até a próxima eleição e que seja suficiente para que as pessoas tenham uma percepção imediata de melhoria de vida para ficar feliz com o governo e mantê-lo por mais quatro anos. Mesmo que não crie as condições necessários para que o país desenvolva todo o seu potencial, com um crescimento sustentável, que tire o país da inércia.
Símbolo da autonomia do BC, Campos Neto se despede com expectativa de aceleração nos juros
Após críticas, Randolfe retira projeto para barrar avanço da direita no Senado em 2026
Lula não passa presidência para Alckmin e ministros assumem tratativas no Congresso; assista ao Entrelinhas
São Paulo aprova isenção de IPVA para carros híbridos; elétricos ficam de fora
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS