O atentado contra o ex-presidente Donald Trump, durante comício no sábado (13), representa um ponto de inflexão na campanha para a eleição presidencial que acontecerá em novembro nos Estados Unidos. Um dos motivos para isso é que ela desmonta, de imediato, a estratégia do Partido Democrata para continuar no poder. O outro efeito é a união definitiva do Partido Republicano em torno de Trump, que em muitos momentos foi rechaçado por integrantes mais tradicionais da direita americana.
A estratégia central dos democratas para levar a eleição deste ano está sustentada na retórica de que Trump é uma ameaça para a democracia americana — por diversas razões, inclusive pela invasão do Capitólio por apoiadores seus após a derrota nas últimas eleições — e que é preciso impedi-lo de voltar a ocupar a Casa Branca. Insistir nesse discurso, pelo menos por enquanto, apenas servirá para alimentar a acusação de republicanos de que é justamente esse tom, essa demonização de Trump, que elevou as tensões políticas e resultou na tentativa de assassinato (omitindo, claro, o próprio discurso polarizador e de demonização do adversário que é adotado por Trump).
Trump reagiu de início com tom sereno ao atentado, pedindo também união dos americanos. Se mantiver essa linha, ficará difícil para os democratas voltar a martelar nas próximas semanas o mantra de que "Trump é uma ameaça"
De imediato, a equipe do presidente Joe Biden, que busca a reeleição, precisou retirar do ar as propagandas que elevavam o tom contra Trump. E o próprio Biden se viu obrigado a discursar em prol da união nacional e da diminuição da "temperatura" do ambiente político.
Enquanto isso, Trump, astutamente, reagiu de início com tom sereno ao atentado, pedindo também união dos americanos. Se mantiver essa linha de serenidade e evitar usar o episódio para colocar lenha na fogueira dos ódios políticos, ficará difícil para os democratas voltar a martelar nas próximas semanas o mantra de que "Trump é uma ameaça".
E por falar em união, o atentado parece estar tendo um efeito galvanizador para a posição de Trump entre os republicanos. A corrente trumpista já havia dominado o partido, ao contrário do que ocorreu em eleições anteriores, quando a dissidência das alas tradicionais ainda se mantinha forte. O fato de Trump ter sobrevivido por um triz de ser assassinado está servindo para diluir as últimas fileiras de resistência interna.
Um forte indício disso é o caso de Nikki Haley, a ex-embaixadora dos Estados Unidos na ONU que foi a última pré-candidata republicana a desistir de disputar a nomeação republicana com Trump, e que não tinha a menor intenção de comparecer à convenção que vai consagrar a candidatura do ex-presidente. Depois do atentado, Trump pediu e ela deu sinais de que agora pretende ir ao evento para discursar. Será uma demonstração de união interna do partido inédita na era Trump. Algo que pode ajudar a tirar de casa, no dia das eleições, eleitores republicanos que não simpatizam com o ex-presidente.
Enquanto isso, os democratas lidam com a divisão interna causada pelo desempenho desastroso de Biden no último debate televisivo contra Trump, em que ele demonstrou fragilidade e lapsos de memória. Crescia, dentro do partido, um clamor para que Biden desistisse da campanha e permitisse que outro candidato, mais apto e enérgico, fosse escolhido em seu lugar. O atentado contra Trump deu esperanças aos apoiadores ainda fieis a Biden de que a pressão por sua desistência diminua. Mas isso só deve durar até a próxima gafe ou o próximo tropeço do presidente.
O lamentável atentado frustrado contra Trump, que resultou na morte de um de seus apoiadores e em outros dois feridos, ocorre em um momento de divisão entre os democratas e de união crescente entre os republicanos.
O resultado da eleição depende, agora, de como o ex-presidente vai lidar com essa nova realidade da campanha, enquanto os democratas sofrem para voltar aos trilhos da sua estratégia.
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