O presidente Jair Bolsonaro.| Foto: EVARISTO SA/AFP
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Atrás do ex-presidente e ex-presidiário Luis Inácio Lula da Silva na maioria das pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro, em sua cruzada por um segundo mandato, critica os institutos e diz que o que vale é o "datapovo". Aliados e analista políticos alinhados seguem o bonde, descendo os tanques sobre as pesquisas. Isso apesar de a campanha de Bolsonaro ter sido a que mais gastou com pesquisas próprias: foram 2,2 milhões de reais em dois levantamentos, conforme informado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Outra prova de que, no fundo, Bolsonaro e seu entorno acreditam em pesquisas é a versão "paz e amor" do candidato que tem prevalecido nas últimas semanas.

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Bolsonaro amenizou as acusações contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro, calibrou o discurso para parecer mais palatável ao eleitorado feminino, diminuiu os ataques frontais aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e até manifestou arrependimento por ter feito, no auge da pandemia, declarações minimizando a gravidade da doença e a dor de suas vítimas ("dei uma aloprada", justificou ele ao ser questionado sobre ao comentário "não sou coveiro" em resposta a uma pergunta sobre os mortos da covid-19). Também se apresenta como um pai dos pobres — ele que antes chamava o Bolsa Família de "Bolsa Farelo" e de "voto de cabresto" e que relutou em apoiar o Auxílio Emergencial para socorrer os necessitados na pandemia.

Eis a versão Bolsonaro Paz e Amor, ou o mais próximo que se consegue chegar de uma versão menos "polêmica" do presidente. Para os apoiadores mais empedernidos do presidente, aqueles que aceitam qualquer absurdo saído da sua boca ou da sua caneta, contanto que ele continue impedindo a "ameaça do comunismo", aconteça o que aconteça, seu voto pertence ao ex-capitão.

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Mas, para se reeleger, Bolsonaro precisa conquistar mais do que apenas os votos de sua base mais leal. E as pesquisas eleitorais dizem exatamente sobre quais setores ele precisa avançar: as mulheres, os pobres e os moderados que não querem a volta de Lula, mas não gostam dos ataques do presidente às instituições da República e da sua indiferença à tragédia pandêmica. O Bolsonaro Paz e Amor está falando para estes públicos.

Tudo isso lembra a estratégia do Lulinha Paz e Amor que permitiu ao então candidato petista, depois de três tentativas malfadadas, se eleger pela primeira vez presidente, em 2002, deixando de lado as partes mais radicais do seu discurso de esquerda e estendendo as mãos para o empresariado e para as políticas pró-mercado.

Lula, nas eleições deste ano, porém, concorre mais como uma versão original dele mesmo do que com a carcaça suavizada de 2002. Fala mal de banqueiros, faz tiradas machistas achando que está obtendo o efeito contrário e admite que não tem planos concretos para a economia.

Já a nova versão de Bolsonaro é "paz e amor", mas não muito (ma non troppo, no bom italiano das partituras musicais). Isso porque sua versão autêntica continua na estratégia de demonizar o adversário e seus apoiadores, jogando gasolina na polarização política de viés nefasto — aquela marcada por profunda intolerância em relação a quem não compartilha da paixão irracional pelo mesmo líder ou grupo político.

Lula também faz esse jogo. Já equiparou Bolsonaro a um "demônio" e não se cansa de associar seus apoiadores ao fascismo ou à Ku Klux Klan.

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Nos últimos dias, Bolsonaro chamou Lula de "capeta" e reafirmou que a eleição deste ano consiste em uma luta do bem contra o mal. E tem gente que cai nessa esparrela maniqueísta, de ambos os lados.