A votação das eleições presidenciais na Argentina, neste domingo (22), que levou ao segundo turno o peronista Sergio Massa e o libertário Javier Milei, repetiu um fenômeno já visto na disputa brasileira do ano passado, entre Jair Bolsonaro e Lula: a lógica eleitoral da polarização não dá chance a uma terceira via ou a um caminho do meio, mais moderado, que no caso argentino teria sido a candidata de centro-direita Patricia Bullrich, apoiada pelo ex-presidente Mauricio Macri. A polarização empurra os eleitores a fazer uma antecipação do voto útil no primeiro turno.
Assim como no Brasil o então presidente Bolsonaro foi o melhor cabo eleitoral de Lula, na Argentina o novato Milei, com suas propostas heterodoxas para a economia e para a sociedade, foi o melhor cabo eleitoral do governista Sergio Massa, um dos responsáveis pelo desastre econômico que o país vive atualmente. Massa partiu na frente para a disputa no segundo turno, com uma vantagem de cerca de 6 pontos percentuais em relação a Milei. Mas o jogo não está ganho e Milei ainda pode virá-lo.
Se Milei conseguir atrair oito de cada dez votos que foram para Bullrich, ele tem a chance de virar o jogo com uma margem apertada.
Com 98,51% das urnas apuradas, Massa obteve cerca de 36,7% dos votos, Milei, quase 30%, e Bullrich, 23,8%. Depois da divulgação dos números, Milei observou que a votação de Massa cresceu e que a de Bullrich diminuiu em relação ao que vinham apontando as pesquisas. Com isso, ele sugeriu que parte dos votos da terceira colocada migraram para Massa já no primeiro turno. Se isso for verdade, pode significar que o potencial de crescimento de Massa é menor daqui pra frente, já que dificilmente os eleitores mais conservadores de Bullrich carregariam seus votos para o candidato que foi ministro da Economia do atual governo kirchnerista de Alberto Fernández.
É provável que Massa angarie os votos dos candidatos de esquerda que chegaram em quarto e quinto lugar na votação, respectivamente Juan Schiaretti e Myriam Bregman. Com isso, somando-se aos votos que ele já recebeu no primeiro turno, ele teria 46% do eleitorado assegurado na segunda volta. Mas se Milei conseguir atrair oito de cada dez votos que foram para Bullrich, ele tem a chance de virar o jogo com uma margem apertada.
Não é uma meta impossível de se atingir, mas provavelmente exigirá de Milei uma moderação no seu discurso de se opor a tudo-isso-que-está-aí. Ou seja, precisará reduzir a resistência de eleitores que rejeitam Massa, porém temem a incerteza de um eventual governo do candidato novato.
Bullrich tem forte apelo junto ao eleitorado que é contrário ao peronismo kirchnerista e que prioriza políticas firmes na área de segurança pública. Essa parcela dos eleitores dificilmente depositará seus votos em Massa. É nisso que Milei irá apostar.
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