O presidente francês Emmanuel Macron, um político de centro-direita, conseguiu a proeza de criar as condições para que tanto a esquerda quando a direita radicais obtivessem vitórias expressivas nas eleições legislativas, encerradas neste domingo (7). Macron decidiu dissolver o parlamento e convocar novas eleições depois que o grupo político de Marine Le Pen, o Reagrupamento Nacional (RN), ter vencido as eleições para o Parlamento Europeu, algumas semanas atrás. Parecia uma estratégia camicase, e realmente foi.
Enquanto boa parte da imprensa, inclusive a brasileira, comemorava o resultado do segundo turno da votação, que acabou não confirmando a possibilidade de o RN conseguir a maior bancada na Assembleia Nacional, passava batido o atraso que significará o fortalecimento da esquerda radical, que terá de ser ouvida para se obter uma coalização que a inclua a esquerda mais moderada e o centro político, do qual Macron faz parte.
É provável que o primeiro-ministro que venha a ser escolhido seja diametralmente contrário às políticas que Macron vem adotando nos últimos tempos
A pressão por políticas protecionistas e pela reversão de reformas feitas a duras penas, como a da previdência, vai certamente aumentar. Não dá para dizer que o resultado da eleição foi propriamente uma avanço para o país, portanto.
Como a eleição legislativa na França acontece em dois turnos, esquerda e centro-direita puderam se unir para evitar, no segundo turno, a confirmação de uma vitória esmagadora do RN de Marine le Pen. Isso porque no segundo turno a esquerda e o centro político liderado pelo presidente Emmanuel Macron se utilizaram de uma estratégia que já deu certo em eleições passadas: quem chegou em terceiro lugar na disputa no primeiro turno abandonava a disputa em favor do candidato da esquerda ou da direita melhor colocado. O objetivo era barrar o RN de Marine Le Pen.
O resultado foi que a frente de esquerda conquistou o maior número de cadeiras do novo parlamento. Serão 182 cadeiras para a frente de esquerda, seguida pela coalizão Juntos, de Emmanuel Macron, com 168, e em terceiro o RN de Le Pen com 143 vagas. Mesmo conseguindo evitar a vitória da direita radical, Macron foi o grande derrotado nessa eleição por dois motivos.
Primeiro porque, como presidente de centro-direita, ele vai ter que lidar agora com uma coalizão com a esquerda e com a esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon para conseguir formar um governo. É provável que o primeiro-ministro que venha a ser escolhido seja diametralmente contrário às políticas que Macron vem adotando nos últimos tempos. Segundo porque, mesmo ficando em terceiro, o grupo político de Le Pen cresceu muito, dobrando o número de cadeiras na Assembleia Nacional. Ou seja, Macron conseguiu, com sua decisão de convocar novas eleições, fortalecer tanto a esquerda quanto a direita radical.
O que se vislumbra daqui para frente é uma fase de negociações bastante difíceis para se obter uma coalizão da esquerda, que saiu vitoriosa mas sem uma maioria absoluta, com o grupo de Macron. E essa coalizão delicada provavelmente vai criar uma situação de instabilidade política duradoura, pois o mandato presidencial de Macron vai até 2027. Isso cria condições para que o grupo de Le Pen explore as fragilidades e o fracasso do governo de esquerda/centro-direita para se fortalecer e se apresentar como única alternativa viável para 2027.
O tiro de Macron saiu pela culatra.
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