A votação do 1º turno deste domingo (2) confirmou a polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Não apenas em nível nacional, na disputa para a presidência da República, como também na corrida para os outros cargos, principalmente para o Poder Legislativo. A terceira via derreteu até mais do que previam as pesquisas, mostrando que não há espaço para nada entre os dois extremos políticos. É hora, então, de fazer no 2º turno algo que passou batido na campanha até agora: cobrar dos candidatos a discussão de propostas para o país.
O que se viu na campanha para o 1º turno foi uma antecipação da 2º volta, com a antecipação do voto útil, pautado na rejeição a um dos dois candidatos. Lula pediu e trabalhou para receber já neste domingo o voto dos eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), mas quem de fato conseguiu antecipar os votos de segunda opção foi Bolsonaro, impulsionado pelo medo de parte dos eleitores da terceira via de que o petista vencesse o pleito já no 1º turno. Sim, porque os cidadãos que preferiam os candidatos antipolarização dividem-se na hipótese de não haver outra opção além de Lula e Bolsonaro — como, aliás, a partir de agora não há.
Na busca pelo voto útil, pela antecipação do 2º turno, Lula e Bolsonaro exploraram a rejeição ao adversário, deixando de lado a discussão de propostas de governo. Isso ficou evidente no último debate presidencial na TV Globo, na quinta-feira (29). Sobraram ataques mútuos e faltaram ideias e soluções para os problemas do país.
Foi assim ao longo de toda a campanha até agora. Bolsonaro realçou os aspectos positivos de seu governo até agora, o eleitoreiro e temporário aumento no valor do Auxílio Brasil, a redução no preço dos combustíveis e a retomada da economia neste segundo semestre, mas pouco ou quase nada falou sobre os desafios de um segundo mandato e sobre o que planeja para enfrentá-los.
Lula, por sua vez, fez campanha em torno do projeto do cheque em branco. Assina aqui, eleitor, que as propostas eu preencho depois. Lula disse que só falaria de suas pretensões na área econômica depois de eleito, reconheceu que não sabia o que fazer para criar novos empregos para os brasileiros e prometeu, mas nunca divulgou, um documento detalhado com seu plano de governo.
No lugar de propostas, o que os dois candidatos apresentaram antes do 1º turno foi um concurso de quem conseguiu convencer melhor que o adversário era o mais feio, o mais sujo e o mais malvado.
Tudo leva a crer que esta vai ser a toada também do 2º turno. Lula vai explorar a rejeição a Bolsonaro por sua gestão desastrosa da pandemia, por sua postura intolerante com as vozes dissonantes e por suas ameaças à democracia (que não se confirmaram em relação ao sistema de votação porque, afinal, foi por meio desse sistema que o bolsonarismo elegeu uma bancada recorde do Congresso). Bolsonaro vai seguir explorando o repúdio a Lula por suas conexões com regimes autoritários da América Latina e pelos escândalos de corrupção nos governos do PT.
Mas nada disso é novidade para os eleitores. A campanha de 2º turno, confirmada a polarização apontada pelas pesquisas, é uma oportunidade para cobrar dos candidatos algo que não fizeram até agora: um debate sério, com propostas concretas, para os problemas nacionais.
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