Homem é preso durante os protestos em Havana (Cuba), em 11 de julho de 2021.| Foto: Ernesto Mastrascusa/Agência EFE
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A semana que passou concedeu dois exemplos de como os políticos escolhem onde prender seus rabos. Rabo preso, todos sabem, significa comprometer-se com pessoas ou interesses para obter alguma vantagem em troca, em detrimento do bem coletivo ou daquilo que se prega publicamente ou em outras circunstâncias.

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Os exemplos vêm de campos opostos da polarização política no Brasil: a esquerda petista e a direita bolsonarista. A primeira, ao passar pano para a ditadura cubana. A segunda, ao trair a própria base eleitoral no episódio da aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que quase triplicou o valor do dinheiro público que será distribuído a candidatos nas eleições de 2022.

São duas situações com suas particularidades, claro, mas que se unem por um traço típico de um modo de fazer política: quando chega a cobrança por compromissos escusos, passados ou futuros, certos princípios que ficam bem no discurso público são abandonados. O que entra no lugar são desculpas esfarrapadas e malabarismos argumentativos.

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Explico, começando pelo caso dos protestos em Cuba. Parte da esquerda brasileira, incluindo nomes como o ex-presidente Lula (PT) e o ex-candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), tratou de passar pano para a repressão aos manifestantes que pedem liberdade em Cuba, atribuindo a insatisfação dos cubanos, mentirosamente, ao "embargo" americano à ilha e dizendo que o regime foi um modelo a ser seguido no combate à pandemia (mais uma falácia).

As juras de amor à ditadura comunista em Cuba em si não são nenhuma novidade. Esse é um compromisso ideológico histórico de uma parte da esquerda brasileira — compromisso esse compartilhado por sua base mais militante.

Nesse caso, o rabo dos políticos está preso em dois lugares: nas crenças delirantes de sua base radical, que pensam que Cuba é o paraíso na terra, e nas alianças forjadas ao longo de anos por partidos como o PT com governos e grupos políticos internacionais de esquerda (por meio de ajudas mútuas inconfessáveis e muitas vezes criminosas).

O rabo preso com Cuba, porém, expõe a hipocrisia de muitos dos integrantes da oposição brasileira que criticam os traços autoritários do governo Jair Bolsonaro. A incoerência de discurso beira o ridículo. Os princípios democráticos devem valer sempre, em qualquer lugar. Ditaduras não são fofas nem aqui, nem no país dos outros.

O episódio da aprovação de um aumento de 2 bilhões para 5,7 bilhões de reais no valor do fundo eleitoral no ano que vem também se destaca pela hipocrisia. Muitos dos parlamentares que votaram a favor da LDO passaram os últimos anos criticando o financiamento público de campanhas eleitorais, chegando até a prometer acabar com ele. Isso inclui deputados federais bolsonaristas como Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF), entre muitos outros.

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De nada adiantou depois tentar argumentar que não havia outra opção, dizendo que a LDO precisava ser aprovada antes do recesso parlamentar. A decisão de quase triplicar o valor do fundão foi planejada e acordada entre várias lideranças partidárias no Congresso Nacional. Não se podia fingir surpresa.

O Partido Novo tentou votar um destaque para retirar o aumento do fundão da LDO, mas a votação foi apenas simbólica — e muitos dos parlamentares que depois disseram ter votado a favor desse destaque, apesar de terem também aprovado a LDO, na prática nada fizeram para evitar seu valor meramente simbólico.

Os políticos que aprovaram o aumento do fundão enquanto diziam defender exatamente o contrário demonstraram ter o rabo preso em dois lugares: primeiro, no interesse de seus próprios partidos de botar a mão em quantias mais vultosas de dinheiro público para irrigar suas campanhas em 2022 e, segundo, na aliança do governo Bolsonaro com o centrão e com práticas da velha política.

Em ambos os casos, a sobrevivência política atual e a continuação do projeto bolsonarista em 2022 justificam a traição a uma das demandas da própria base de apoiadores desses políticos. É como se dissessem que, para evitar a volta do PT, vale tudo, até fazer aquilo que sempre prometeram não fazer.

Mas qual o limite do que se pode abandonar em termos de princípios para alcançar esse objetivo? Em que ponto a justificação dos meios pelos fins começa a deformar o próprio fim que se quer alcançar?

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É sempre bom saber onde os políticos escolhem prender seus rabos.