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Diogo Schelp

Diogo Schelp

Política

O dilema de Tarcísio: a que distância se manter de Bolsonaro?

Tarcísio
Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

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O ex-presidente Jair Bolsonaro não tem condições de liderar a oposição ao governo Lula e até disse antes de embarcar para o Brasil que, de fato, não vai "liderar nenhuma oposição". Mas é exatamente esse papel que ele tem demonstrado que pretende exercer e também que o seu partido, o PL, espera dele.

Bolsonaro ganhou cargo de presidente de honra da legenda e um salário polpudo, equivalente ao de ministro do STF e que se soma às aposentadorias a que tem direito. Ele tinha a expectativa de ser recebido nos braços de apoiadores em sua chegada a Brasília, o que não ocorreu. Mas as cenas de multidões bolsonaristas ao redor do seu mito ainda podem acontecer, pois o PL planeja viagens do ex-presidente pelo país. Quais personalidades da política estarão ao seu lado nas motociatas? Tarcísio de Freitas? Romeu Zema?

Bolsonaro não parece disposto a aceitar o crescimento de nenhuma liderança de direita que não seja a sua própria.

É bastante provável que Tarcísio e Zema posem com o ex-presidente e o recebam com tapete vermelho em seus estados. O primeiro deve sua eleição ao governo de São Paulo em grande medida ao fato de ter sido o candidato do então presidente. O segundo apoiou Bolsonaro no segundo turno, quando já havia vencido a reeleição em Minas Gerais. Mas, de resto, ambos têm motivos para manter uma distância segura de Bolsonaro. Se eles quiserem alçar voos mais altos, precisam ganhar luz própria, não ficar à sombra do ex-presidente.

A situação é mais complicada para Tarcísio, que é visto como afilhado político de Bolsonaro. Zema nunca foi do mesmo partido e não dependeu do ex-presidente para se eleger. Tarcísio vinha se distanciado do bolsonarismo e adotando um estilo próprio de governar, mais pragmático e agregador, menos ideológico. Chegou a dizer que nunca foi bolsonarista-raiz e aproximou-se de Lula, com o bom argumento de que precisa do apoio federal para cumprir promessas de campanha, como a privatização do Porto de Santos.

O risco é o de que, apesar de incapaz de liderar a oposição, Bolsonaro mate a chance de que outro representante da direita venha a fazê-lo.

Além disso, a possibilidade de que Bolsonaro esteja se preparando para pavimentar o caminho para voltar ao Palácio do Planalto tolhe as asas de Tarcísio nos tais voos mais altos. É claro que nada impede que ele busque uma candidatura própria. Mas isso significaria romper com o núcleo duro do bolsonarismo, que ele continua cultivando e adulando.

Esse rompimento até poderia acontecer em algum momento, mesmo que ele negue agora. Mas até lá, Tarcísio teria que manter Bolsonaro longe o suficiente para não ofuscar ou atrapalhar, com seu carisma, seu radicalismo e seus rolos das joias, a imagem do governador. E perto o bastante para não ser acusado de ter traído o "mito".

Vale lembrar que foi isso o que aconteceu com João Doria e com Wilson Witzel, ambos eleitos governadores para São Paulo e para o Rio, em 2018, com uma estratégia colada à imagem de Bolsonaro e que, quando colocaram as manguinhas presidenciáveis de fora, viraram alvo da fúria bolsonarista. Hoje estão fora da política.

Bolsonaro não parece disposto a aceitar o crescimento de nenhuma liderança de direita que não seja a sua própria. Ele deixou isso bem claro ao enterrar os planos que o PL tinha para construir uma candidatura qualquer para sua mulher, Michelle. Nem o protagonismo da própria esposa Bolsonaro foi capaz de permitir.

O risco é o de que, apesar de incapaz de liderar a oposição, Bolsonaro mate a chance de que outro representante da direita venha a fazê-lo. O PT agradece.

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