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Diogo Schelp

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Ideias

Por que não dá para equiparar o comunismo ao nazismo

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Itens expostos no Museu do Holocausto, de Curitiba, ensinam sobre a perseguição sistemática aos judeus na Alemanha nazista (Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo)

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Os crimes do comunismo merecem e devem ser expostos assim como foram e continuam sendo expostas as atrocidades do nazismo. Não é possível, porém, como se tentou fazer na última semana em um acirrado e inusitado debate público no Brasil, equiparar o comunismo ao nazismo. Equiparar significa igualar, dar o mesmo valor, significado ou peso.

A discussão começou com a defesa da ideia de que, em nome da liberdade de expressão irrestrita, deveria ser permitida a existência de um partido nazista no Brasil. Seguiu-se uma onda de repúdio quase unânime a essa ideia, mas entre aqueles que se juntaram a esse coro houve quem fizesse uma ressalva: se partidos nazistas estão vetados, também deveria ser proibido a existência de partidos comunistas.

O argumento central dos defensores da ideia de que a proibição a partidos nazistas deveria se estender aos que pregam o comunismo é o de que os crimes cometidos em nome desta ideologia foram ainda maiores do que os perpetrados pelo nacional-socialismo de Adolf Hitler.

Ou seja, o comunismo teria matado mais, foi ainda mais genocida, do que o nazismo. Envereda-se, então, pela comparação bruta dos números. Trata-se de uma competição inconclusiva e, no fundo, inócua.

Inconclusiva porque o que se tem são estimativas que se situam em grandes intervalos de milhões de pessoas. Matthew White, autor de O Grande Livro das Coisas Terríveis (Rocco), compilou os números apresentados por diferentes historiadores e percebeu que o resultado de quem é pior na contagem macabra das vítimas depende das fontes e dos critérios adotados. Assim, o ditador soviético Josef Stalin teria matado entre 3 e 50 milhões de pessoas, a depender da estimativa. O líder comunista chinês Mao Tsé-tung matou algo em torno de 40 milhões. Hitler, entre 11 e 25 milhões.

Mas na conta de Stalin e Mao estão também as mortes por inanição, forçada ou não, de milhões de pessoas. Se o critério for o de incluir apenas os assassinatos deliberados, Hitler matou mais do que Stalin e Mao somados, segundo o levantamento de White. Além disso, sua matança ocorreu em um espaço mais curto de tempo.

Mas a comparação numérica é inócua, que só serve para demonstrar que tanto o comunismo quanto o nazismo são ideologias que resultaram em tiranias extremamente sanguinárias. Não explica de fato em que medida elas podem ser consideradas equivalentes e, mais importante, não ajuda a responder à pergunta: se partidos nazistas devem ser proibidos, agremiações comunistas também devem ser?

Para responder a isso, é preciso entender o que realmente há em comum e o que há de diferente entre essas duas ideologias.

A diferença central está nos objetivos, declarados ou não, do nazismo e do comunismo. O primeiro tem a noção de raça superior e a limpeza étnica em seu cerne, sendo a "solução da questão judaica" (como os nazistas chamavam o plano de expulsão e genocídio dos judeus) a pedra fundamental para poder construir um Grande Reino Germânico Mundial ("Grossgermanischen Weltreich"), ao qual apenas "povos irmãos" dos alemães poderiam ser integrados.

O historiador Konrad Kwiet, em capítulo escrito para a Enzyklopädie des Nationalsozialismus, define o programa ideológico do nazismo como uma "utopia sociobiológica, em que o racismo assume uma posição central".

O comunismo marxista também é uma utopia, mas de outra natureza. Busca a superação do capitalismo e a construção de uma sociedade em que a maioria proletária da população dá as cartas. Isso pressupõe a destruição da sociedade burguesa, ainda que por meios violentos e coercitivos. A revolução do proletariado pressupõe a desapropriação, o emprego da força e a eliminação de adversários.

No comunismo, portanto, os fins justificam os meios violentos. No nazismo, o extermínio é a própria finalidade.

Em um debate em torno justamente da comparação entre as monstruosidades cometidas pelo nazismo e pelo comunismo, no ano 2000, com o jornalista e acadêmico Anatol Lieven, a historiadora Anne Applebaum, autora de diversos livros sobre a repressão e os abusos ocorridos na União Soviética e no Leste Europeu, apontou o que ela considera ser um traço comum fundamental entre as duas ideologias: ambas valeram-se da retórica da desumanização de seus inimigos para que eles pudessem ser perseguidos e dizimados em grande escala.

Essa tendência à desumanização foi o que produziu assassinos frios como os médicos Che Guevara e Josef Mengele, dispostos a matar em nome de suas ideologias.

Lieven, por sua vez, apontou que, ao contrário do nazismo, o comunismo assumiu diferentes formas em lugares e tempos diferentes. Em alguns lugares, a opressão comunista assumiu contornos de perseguição a grupos nacionais e de limpeza étnica. Em outros, não.

Nas últimas décadas, em países democráticos, herdeiros políticos do comunismo aboliram os meios violentos de sua agenda — seja por pragmatismo, seja por uma mudança genuína nos padrões morais —, ainda que a finalidade, a superação do capitalismo e instauração do socialismo, permaneça a mesma.

Eis porque, no Brasil, é possível ter partidos que carregam "comunismo" no nome. Pode-se enfrentar e combater seus objetivos por meio do debate político (e como é fácil fazê-lo!), em vez das armas. Seus militantes tentam ignorar os crimes cometidos pelo comunismo no passado soviético e no presente de ditaduras como a de Cuba, mas não se vê, por exemplo, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desumanizando os adversários políticos e advogando sua segregação e extermínio.

Já um hipotético partido nazista seria racista e xenófobo por princípio. Se não fosse, não seria nazista.

Existem representantes de uma certa direita irresponsável no Brasil que, no afã de se mostrar mais anticomunistas que os outros, acabam produzindo argumentos que relativizam os crimes do nazismo. E, o que é pior, em alguns casos o objetivo é esse mesmo.

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