O presidente Jair Bolsonaro| Foto: SERGIO LIMA/AFP or licensors
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O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontraram um ponto de consenso. Ambos avaliam que Sergio Moro, como ministro, foi um insubordinado — um traidor, até.

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Tudo o que Bolsonaro queria, como ele próprio admitiu naquele pronunciamento em que se cercou de ministros, era ter um diretor da Polícia Federal (PF) com quem pudesse "interagir". Como observou o ex-ministro do STF Francisco Rezek em entrevista à CNN Brasil, com aquela fala o presidente confirmou o relato sobre suas intenções de ingerência na PF feito por Moro horas antes, no mesmo dia 24 de abril.

Há quem diga que esse tipo de interferência é crime. Bolsonaro e seus apoiadores acham que ele está no seu direito. "Eu fui (eleito) presidente para interferir, mesmo", disse ele em agosto do ano passado, em meio à sua tentativa de trocar o superintendente da PF no Rio de Janeiro.

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Lula concorda com Bolsonaro. Em entrevista concedida na quinta-feira (30) ao UOL, o ex-presidente e ex-presidiário petista defendeu o direito de Bolsonaro de trocar o diretor da PF e colocar no lugar quem quer que seja.

Lula também defendeu Bolsonaro em sua briga com Moro. Disse o líder petista: "O ministro não pode achar que ele é mais importante que o presidente da República. O Moro já estava para cair antes. O Moro é uma criatura inventada pela Globo."

Lula descreve o ex-juiz da Lava Jato como um subordinado puxa-saco que trai o chefe para avançar com os próprios interesses.

Bolsonaro também considera Moro um traidor. "O Judas, que hoje deporá, interferiu para que não se investigasse?", escreveu o presidente no Twitter neste sábado (2), mesmo dia em que Moro passou oito horas em depoimento à PF no âmbito da investigação autorizada por Celso de Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e solicitada pela Procuradoria-Geral da República.

A investigação que Bolsonaro acusa Moro de ter barrado é a que apurava a suspeita de que Adélio Bispo, o autor do atentado a faca contra o então candidato presidencial, estava cumprindo ordens de alguém. Ao contrário do que sugere Bolsonaro, porém, a hipótese de que havia um complô para assassiná-lo foi, sim, investigada. E a conclusão da PF foi de que Adélio Bispo agiu sozinho. Ele acabou sendo considerado inimputável pela Justiça, por sofrer de um transtorno psiquiátrico. Até os advogados de Bolsonaro desistiram de insistir na busca por outros culpados.

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Sendo assim, a referência à investigação do atentado serve apenas para construir a narrativa de que Bolsonaro é vítima de uma conspiração na qual o seu ex-ministro é o traidor.

O Judas de Bolsonaro é o Moro que supostamente se recusou a investigar a tentativa de assassinato do chefe.

Mas há outro ponto de convergência entre Bolsonaro e Lula. Trata-se da disposição em deixar os pudores de lado para se aliar à banda podre da política.

Refiro-me aqui ao Judas de Lula, em comparação feita pelo próprio em outubro de 2009, quando ainda era presidente. Para justificar as alianças políticas que ele estava costurando na ocasião para garantir apoio no Congresso Nacional, Lula disse: "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão."

A aliança com o "Judas" de Lula resultou na chapa PT-PMDB, composta por Dilma Rousseff e Michel Temer, que venceu as eleições no ano seguinte. O resto é história.

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Bolsonaro está no seu momento "aliança com Judas", distribuindo cargos de direção em órgãos estatais estratégicos para indicados do Centrão, o antes demonizado bloco de partidos fisiológicos, para obter apoio mínimo no Congresso Nacional. Ele precisará desse apoio não apenas para aprovar leis, mas também para sobreviver a um eventual processo de impeachment ou à abertura de uma ação penal no STF, caso a investigação para a qual Moro depôs neste sábado (2) avance.

Pouco tempo atrás, o presidente tinha em Moro um herói anticorrupção e denunciava a velha política. Agora, Moro é o seu Judas e, para enfrentar sua "traição", Bolsonaro rende-se à velha política, aliando-se ao Judas de Lula.