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Diogo Schelp

Diogo Schelp

Política

Lula, Haddad, o rei Nabucodonosor e o corte de gastos

Presidente Lula com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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A maneira como o presidente Lula absorve os conselhos de seus ministros quanto à necessidade ou não de corte de gastos públicos faz lembrar a história de Nabucodonosor, rei da Babilônia, que chamou os seus conselheiros para interpretar um sonho que o incomodava. Mas não bastava que interpretassem o sonho, eles precisavam também adivinhar o seu teor. Por que Nabucodonosor fez essa exigência? Porque desconfiava dos conselhos que recebia. Não sabia se os conselheiros estavam dando conselhos reais ou tentando manipulá-lo.

Essa é a situação de Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Ele tem que convencer Lula que os seus objetivos políticos só serão alcançados, seja lá qual for o sonho do presidente, se o governo começar a fazer o corte de gastos urgentemente. Afinal, o equilíbrio das contas públicas por meio do aumento da arrecadação já se esgotou há muito tempo. Só que Haddad e Simone Tebet, ministra do Planejamento, estão meio que sozinhos nessa. Há outros conselheiros de Lula Nabucodonosor apontando no caminho contrário.

Lula Nabucodonosor vai ter que descobrir por conta própria o que ele quer. Não vai poder esperar que uma inspiração divina permita aos seus ministros adivinharem o caminho que ele quer seguir

A indefinição em torno da promessa do governo de anunciar um pacote para o corte de gastos públicos levou o valor do dólar frente ao real às alturas, ajudado pela insegurança relacionada às eleições presidenciais nos Estados Unidos, que se encerram nesta terça-feira (5).

O fato de Lula ter pedido para Haddad cancelar uma viagem que ele faria à Europa, onde ficaria por quase uma semana, pode ser entendido como um sinal de que ele finalmente compreendeu que é hora de anunciar o tal pacote de corte de gastos. Ou, ao contrário, pode ser apenas que Lula acredita que a simples permanência de Haddad no Brasil já seria suficiente para acalmar os mercados e segurar a alta do dólar.

Mas não é suficiente. Só vai acalmar se não houver mais um adiamento da decisão de finalmente anunciar os tais cortes. Se eles não acontecerem esta semana, isso apenas vai colocar mais lenha na fogueira da insegurança dos investidores.

Lula Nabucodonosor vai ter que descobrir por conta própria o que ele quer. Não vai poder esperar que uma inspiração divina permita aos seus ministros adivinharem o caminho que ele quer seguir. Ele pretende continuar apostando no voo de galinha, despejando dinheiro na economia via gastos públicos, arriscando-se a um endividamento que vai inviabilizar seu próximo mandato (se ele conquistar um) e pressionando desde já a inflação e os juros, ou quer seguir o caminho de um crescimento sustentável no médio e longo prazo? Os conselhos já foram dados. O convencimento de Lula depende do que ele quer.

Em tempo: na Bíblia, a interpretação do sonho de Nabucodonosor por Daniel previa um futuro de declínio para o seu reino, até que chegaria um momento em que seriam feitas alianças políticas, "mas a união decorrente dessas alianças não se firmará, assim como o ferro não se mistura com o barro". Será que os conselheiros de Lula estão fazendo a interpretação correta dos seus propósitos?

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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