Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Diogo Schelp

Diogo Schelp

Coronavírus

A matemática do presidente Jair Bolsonaro

matemática do presidente
O presidente Jair Bolsonaro em entrevista concedida ao filho Eduardo Bolsonaro (Foto: Reprodução/YouTube)

Ouça este conteúdo

A grande vantagem de conceder entrevista para o próprio filho é que não existe risco de contestação, de ser pego em contradição ou de ser confrontado com os fatos. Por isso o presidente Jair Bolsonaro estava à vontade em sua conversa com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho 03, transmitida em canal do YouTube neste sábado (19). Tão à vontade que ousou até desafiar a aritmética, a exatidão factual das operações numéricas. Na matemática do presidente Jair Bolsonaro, 5.233 é só um pouco mais do que 2.981. Pior: na matemática do presidente, 333.028 é um número menor do que 319.653 — apesar de uma simples operação de subtração revelar que a diferença para mais é de 13.375.

"A pandemia, realmente, está chegando ao fim. Temos uma pequena ascensão agora, que chama de pequeno repique que pode acontecer, mas a pressa da vacina não se justifica", disse Bolsonaro ao seu filho.

"Pequena ascensão", só na matemática do presidente. Segundo os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, foram registrados 333.028 novos casos de brasileiros infectados pelo novo coronavírus na mais recente semana epidemiológica, a de número 51, entre os dias 13 e 19 de dezembro. É um recorde. Em nenhuma outra semana nesta epidemia foi registrado um número tão alto de novos casos. Apenas a 30ª semana epidemiológica, entre 19 e 25 de julho, chegou perto disso, mas ainda assim registrou 13.375 casos a menos.

Houve um período de redução no número de novos casos, principalmente em outubro (pelas estatísticas oficiais, a queda no início de novembro foi ainda maior, mas naquele momento o Ministério da Saúde sofria um "apagão" de dados, por causa da dificuldade das secretarias estaduais de atualizar os números).

Na semana epidemiológica com o número mais baixo de outubro, entre os dias 11 e 17, foram registrados 141.725 novos casos. Na semana passada, a 51ª do calendário epidemiológico, portanto, o Ministério da Saúde registrou 191.303 mais casos do que na segunda semana de outubro, quando se sentia os efeitos de uma temporária desaceleração na pandemia.

Vamos usar porcentagem? Pois não: o total de novos casos aumentou 135% na semana passada em comparação com a segunda semana de outubro. "Pequena ascensão"? O número de novos casos registrados por semana mais do que dobrou!

Mesmo por outros critérios, só na matemática do presidente o que estamos vivendo agora pode ser chamado de "pequeno repique".

A pior semana epidemiológica pelo parâmetro do número óbitos foi a 30ª, em julho, que registrou 7.677 mortos no Brasil pela covid-19. Em agosto iniciou-se uma fase de lenta desaceleração na taxa de contágio pela doença — fase esta que, claramente, já se encerrou.

Na 44ª semana epidemiológica, entre os dias 25 e 31 de outubro, o número de óbitos havia caído para 2.981, segundo o Ministério da Saúde. Na semana passada, foram registradas 5.233 mortes pela doença em todo o Brasil. Um aumento de mais de 75% nos registros semanais. "Pequeno repique"?

Só na matemática do presidente a pandemia está chegando ao fim. Quase 190.000 brasileiros já morreram de covid-19 e muitos mais ainda vão morrer. Na aritmética do mundo real, ainda estamos em plena pandemia — e, sem vacina para todos os brasileiros, não é possível vislumbrar o seu fim.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

+ Na Gazeta

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.