Lula visita Fidel Castro em Havana, em 2013| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Divulgação
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No panteão dos heróis e apoiadores da ditadura cubana quase não há espaço para os brasileiros. O único cuja imagem está exposta no Museu da Revolução em Havana é Chico Buarque, em uma foto ao lado do cantor cubano Pablo Milanés, sem, no entanto, ser sequer citado nominalmente na legenda. E olha que intelectuais e políticos de esquerda brasileiros vêm há anos se empenhando em fazer juras de amor ao regime castrista, relativizando seus crimes e enaltecendo seus falsos feitos — assim como o fizeram até não muito tempo atrás com outras ditaduras de esquerda da América Latina.

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Há, obviamente, uma base ideológica e histórica no apoio que o PT e outros partidos sempre manifestaram em relação a essas ditaduras de esquerda, enquanto, em casa, afirmavam defender uma combinação de princípios socialistas com valores democráticos.

É, de certa forma, uma questão de identidade partidária que precisa ser alimentada para manter a militância motivada enquanto os dirigentes se empenham em articulações pragmáticas com vistas a garantir o poder, por meio de alianças eleitorais exdrúxulas ou (uma vez empossados) de compromissos com o centrão para assegurar a governabilidade.

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Para falar de um exemplo concreto e recente: uma parcela da militância petista está com dificuldade de engolir as negociações da cúpula do partido para ter o ex-tucano Geraldo Alckmin como vice na chapa com Lula para a disputa presidencial deste ano.

Até não muito tempo atrás, os dirigentes petistas chamavam os políticos do PSDB de fascistas.

Para engolir Alckmin e todo o resto do pacote eleitoral necessário para vencer resistências à volta do PT ao governo federal com mais facilidade, o que inclui acenos de moderação aos setores empresariais e financeiros, a militância ganha algumas migalhas ideológicas, como a promessa, depois suavizada, de reverter a reforma trabalhista e a manutenção de uma postura ambígua em relação às ditaduras de esquerda da região.

Assim foi durante os dois mandatos de Lula, entre 2003 e 2010. Para aplacar a insatisfação das bases mais radicais do partido com as alianças políticas no Congresso e com a política econômica ortodoxa adotada no início, Lula exacerbava, na política externa, a bajulação a ditadores ou projetos de ditadores de esquerda. A reboque de muitas dessas alianças, procurava-se atender aos interesses comerciais de grandes empresas brasileiras.

Há, também, uma dificuldade atávica das lideranças petistas de admitir que são falíveis, que erraram e continuam errando.

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Isso é evidente nos comentários de Lula nos últimos meses a respeito da situação na Nicarágua. O PT saudou a reeleição fraudulenta de Daniel Ortega naquele país como "uma grande manifestação popular e democrática". Lula pediu, quando questionado em entrevista sobre a prisão de candidatos opositores ao longo da campanha nicaraguense, que Ortega respeitasse a democracia e que não se tornasse um ditador. Depois, porém, em outra entrevista, minimizou o autogolpe de Ortega ao comparar sua longevidade no poder à da ex-chanceler Angela Merkel, sem levar em conta de que em um sistema parlamentar, como é o alemão, o chefe de governo pode ser apeado do cargo a qualquer momento pelo Legislativo.

Guilherme Boulos, do PSOL, partido que nasceu como dissidência do PT, foi um pouco mais contundente na crítica a Ortega recentemente, quando este colunista o questionou sobre o assunto durante entrevista em vídeo para a Veja. Boulos justificou o apoio histórico do PSOL a Ortega com o desgastado argumento da "diversidade interna" do partido e comparou a prisão dos seus opositores à de Lula antes das eleições de 2018, mas reconheceu que o processo de reeleição do nicaraguense não foi democrático.

É claro que isso não é suficiente. Boulos, assim como vem fazendo Lula, vale-se de uma retórica equilibrista, com o intuito de distanciar-se de condutas autoritárias sem, no entanto, escancarar o rompimento com ditadores de esquerda.

Reportagem recente da Folha de S.Paulo afirma que o PT pretende moderar o discurso de apoio a essas ditaduras de esquerda, como as da Nicarágua, de Cuba e da Venezuela, para evitar prejuízos à campanha presidencial de Lula.

Mas essa moderação é impossível. Ou há uma condenação clara a esses regimes, ou tudo não passará de uma maquiagem falsa do real encanto que alguns partidos e políticos brasileiros sentem por certos tiranetes.

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