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Diogo Schelp

Diogo Schelp

Internacional

O grupo do Brics vai se tornar um clube de ditaduras?

Brics
O ditador venezuelano Nicolás Maduro e Lula (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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A Venezuela formalizou na semana passada o seu pedido para integrar o Brics, grupo de países emergentes que, como indica o acrônimo, é composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (o "s" de South Africa, em inglês). O país latino-americano junta-se, assim, a uma extensa lista de nações, perto de 40, que manifestam interesse em ingressar no grupo, que precisaria até mudar de nome, sob o risco de se tornar uma sigla impronunciável (Bricsvaibecei?). Chama a atenção, entre os possíveis candidatos, o grande número de ditaduras, como Arábia Saudita, Irã, Cuba, Egito, Emirados Árabes Unidos... O Brics vai se tornar um clube de regimes autoritários?

Não que a configuração atual do Brics se caracterize pelo apego à democracia. China e Rússia são ditaduras, enquanto Brasil, Índia e África do Sul são classificadas como "democracias falhas" pelo Índice de Democracia da revista britânica The Economist.

É verdade que o Brics não foi formado em torno de similaridades entre os sistemas políticos dos países, mas sim de fatores econômicos e geopolíticos — como as condições materiais para o crescimento, a grandeza territorial, a disponibilidade de matéria-prima e mão-de-obra e a vocação natural para serem potências regionais. O Brics serve para que os integrantes discutam temas de interesse mútuo e cooperem para alavancar o desenvolvimento de suas economias e para ampliar sua influência internacional.

Em seus dois primeiros mandatos, Lula recorrentemente tomou decisões na política externa que favoreceram esses vizinhos, mesmo em situações que batiam de frente com os interesses brasileiros

Ocorre que, com o passar do tempo, com o crescimento exponencial da China, tanto em termos econômicos como geopolíticos, a liderança de Pequim no grupo tornou-se cada vez mais saliente. Enquanto o grupo for restrito a cinco membros, no entanto, essa influência ainda pode ser balanceada pela atuação dos outros. Se o grupo for ampliado, porém, o poder relativo dos membros mais "fracos", como é o caso do Brasil, vai ser diluído.

Por esse motivo, não interessa ao Brasil a ampliação desenfreada do grupo. Na configuração atual, o Brics é um fórum que dá projeção e prestígio à diplomacia brasileira. Ampliado, o grupo se tornará com mais clareza um instrumento de influência global da China, que anseia por instâncias multilaterais com as quais possa fazer frente aos espaços de discussão global das potências ocidentais dos quais não faz parte, como o G7 (grupo das economias mais avançadas do mundo), liderado pelos Estados Unidos, ou a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O interesse da diplomacia brasileira pelo Brics perpassa governos e ideologias. Estabelecido em 2009, no governo Lula, o Brics fez parte das prioridades da política externa na presidência de Michel Temer (2016-2018), que de resto pouco ou nada aproveitou da diplomacia lulista, e também não foi ignorado pelos estrategistas externos de Jair Bolsonaro. No plano de governo de Bolsonaro na campanha para a reeleição, no ano passado, o Brics era citado, ao lado do G20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo), como exemplo da participação do Brasil em "agrupamentos de países, voltados ao enfrentamento de desafios políticos e econômicos globais".

Apesar de uma possível expansão do Brics não ser do interesse estratégico do Brasil, Lula tem se manifestado publicamente a favor dessa hipótese — com ênfase para o ingresso da Argentina e da Venezuela. Em seus dois primeiros mandatos, Lula recorrentemente tomou decisões na política externa que favoreceram esses vizinhos, mesmo em situações que batiam de frente com os interesses brasileiros. Costumava-se dizer, na época, que isso ocorria "por ideologia", mas descobriu-se depois que a verdadeira motivação era beneficiar grupos empresariais amigos com interesses comerciais nesses países, principalmente na Venezuela.

E agora, o que move Lula a apoiar algo que os diplomatas de carreira do Itamaraty, silenciosamente, consideram descabido?

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