O ex-presidente Lula, do PT| Foto: José Cruz/Agência Brasil
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Os empresários brasileiros estão fechados com Jair Bolsonaro. Mesmo você que não acredita em pesquisas deveria se impressionar com o fato de que, segundo o levantamento do Datafolha que foi registrado no TSE sob o número BR-05166/2022, 48% dos empresários consideram a gestão do atual presidente ótima ou boa. Bem acima da média geral dos entrevistados, que cravou 25% de avaliações positivas. Nas intenções de voto, Bolsonaro está 33 pontos percentuais à frente de Lula entre os empresários. É um abismo de preferência. Há também evidências do mundo real que confirmam esse favoritismo de Bolsonaro entre empresários ou entre a elite econômica nacional de maneira mais geral.

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É o que conta a história da pesquisa da XP Investimentos encomendada ao instituto Ipespe e cuja divulgação foi cancelada depois que aliados do presidente, inclusive seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), reclamaram dos últimos resultados, que mostraram Lula bem à frente nas intenções de voto. Segundo relatos na imprensa, investidores endinheirados começaram a fechar suas contas ou tirar seus investimentos dos fundos da XP.

A aversão dos empresários à possibilidade de o PT voltar à presidência com Lula é compreensível. Quem trabalha com empreendedorismo tende a rechaçar projetos econômicos que privilegiam o Estado como motor da economia, com afrouxamento fiscal e propenso a engessar as regras trabalhistas, com defende o PT (conforme comprovado por rascunho de programa de governo vazado dias atrás).

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Mas o governo Bolsonaro tampouco foi o primor de liberalismo econômico que prometia ser quando começou. Com a desculpa de que é preciso evitar "a volta do comunismo" ou algo assim, esse governo rompeu o teto de gastos para abraçar medidas assistencialistas (que antes Bolsonaro chamava de "migalhas") e agora ensaia torrar duas vezes o valor da esperada privatização da Eletrobras em subsídios para conter a alta no preço dos combustíveis.

O último arroubou liberal do governo Bolsonaro (alerta de ironia) foi o de pedir ao setor de supermercados que entre no modo de contenção voluntária dos preços de alimentos pelo bem do país. Ah, tá.

A verdade é que Bolsonaro só pode contar, de fato, com a lealdade de parte dos pequenos e médios empresários para apoiá-lo para o que der e vier. Os grandes, aqueles com maior perspectiva para fazer lobby por seus interesses junto aos detentores do poder, sejam eles quais forem, tendem a debandar para o adversário (Lula) se sentirem o cheiro da derrota de Bolsonaro.

Um clássico nos estudos dos grupos de pressão é a obra A Lógica da Ação Coletiva, de Mancur Olson, de 1971, que demonstra como grupos pequenos, com poucos membros, têm mais oportunidade de obter ganhos com o lobby, mesmo quando há menor coesão de interesses entre eles.

Membros de grupos maiores, mais numerosos — por exemplo, os que representam os interesses de donos de bares e restaurantes — não podem contar tanto com o sucesso da atividade de lobby junto a políticos e governantes para resolver seus problemas quanto, em contraste, os integrantes de grupos menores, como os que defendem os interesses de banqueiros.

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Tanto é assim que poucos foram os setores do grande empresariado que não lucraram, e bastante, nos governo do PT. Posso citar aqui o exemplo óbvio de empresários individuais, como aqueles das empreiteiras e de indústrias de alimentos que viram seus negócios irem à estratosfera nos anos Lula e Dilma Rousseff.

No primeiro mandato do governo Lula, por uma série de fatores, como a valorização do real e o boom internacional das commodities, o lucro das grandes empresas quadriplicou e o dos 23 bancos de capital aberto dobraram em comparação com o período do segundo mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Mas não foram apenas as circunstâncias econômicas que favoreceram os grandes empresários. Os governos do PT trabalharam em prol dos ganhos empresariais. Segundo levantamento feito em 2017 pelo então Ministério da Fazenda, a maior parte do gasto dos governo Lula e Dilma com subsídios e crédito, mais precisamente 60%, foram para setores empresariais. O restante foi para programas sociais.

Resumo da ópera: os empresários, em especial os donos de grandes negócios, estão com Bolsonaro só até a página dois. Quanto mais alta a escala dos lucros, mais sensíveis e adaptáveis eles são à perspectiva dos novos inquilinos do poder.