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Diogo Schelp

Diogo Schelp

Política

Para se reeleger, Bolsonaro tenta trocar antipolítica por política social

políticas sociais
Jair Bolsonaro na convenção partidária que confirmou seu nome para a disputa presidencial (Foto: Reprodução/YouTube/Canal de Flávio Bolsonaro)

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Em 2018, quando venceu a eleição para a presidência da República, Jair Bolsonaro fez campanha não só como o candidato do antipetismo, mas também da antipolítica. Apesar dos 28 anos de atuação como deputado federal, Bolsonaro se apresentou como um outsider, alguém de fora da prática política tradicional. Também desprezava o foco na política social dos governos anteriores, do PSDB e principalmente do PT, classificando o Bolsa Família como "voto de cabresto" e ecoando críticas antigas que ele sempre fez a brasileiros que, segundo ele, geravam filhos apenas para receber o benefício.

Bolsonaro prometeu manter o programa caso fosse eleito, mas deixava claro que seu governo iria enfatizar a meritocracia em detrimento de uma política social assistencialista.

Quanto ao combate à corrupção e às práticas da "velha política", o então candidato criticava duramente tudo aquilo que ele veio a fazer a partir de mais ou menos a metade do seu mandato. Disse ele antes do segundo turno, em 2018: "Qualquer presidente que porventura distribua ministério, estatais, ou diretorias de banco para apoio dentro do parlamento, ele está infringindo o art. 85 do inciso dois da constituição. E daí? Qualquer um pode — se eu por exemplo, apresento no ministério para um partido com objetivo de comprar voto — qualquer um pode então me questionar que eu estou interferindo no exercício do Poder Legislativo."

O Bolsonaro que se apresentou na convenção do PL neste domingo (24), em que foi confirmado como candidato à reeleição, tenta ser o inverso do Bolsonaro de 2018 — pelo menos no que se refere à troca do discurso antipolítica pelo de política social.

Em seu discurso, ele martelou referências ao Auxílio Emergencial, pago durante parte da pandemia do novo coronavírus, e ao Auxílio Brasil, o novo nome do Bolsa Família (que o presidente apresenta como se fosse algo novo, criado por seu governo). Bolsonaro gabou-se de ter aumentado os gastos com política social, a ponto de apenas em 2020 ter superado os recursos despendidos com o Bolsa Família nos 15 anos anteriores. Isso vindo da mesma pessoa que em 2018 reclamava que Bolsa Família e Seguro-Desemprego custavam mais de R$ 40 bilhões ao Estado (valor que, na recente PEC dos Auxílios, equivale apenas ao montante que excede o teto de gastos).

E no mesmo discurso em que se apresentou como o pai da política social mais benevolente das últimas décadas, Bolsonaro tratou de fazer afagos a representantes da velha política — aquela que era achincalhada pela sua campanha de 2018. Na convenção partidária que consagrou Bolsonaro candidato presidencial naquela campanha, seu futuro ministro Augusto Heleno cantou: "Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão."

No discurso deste domingo, em contraste, Bolsonaro fez rasgados elogios ao presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL), que assistia a tudo dentro de uma camiseta com a inscrição "Bolsonaro 22". Lira é um dos líderes do centrão, o bloco de parlamentares de partidos fisiológicos, que oferece seu apoio a qualquer governo, nunca por ideologia, mas mediante distribuição de cargos e de emendas.

Bolsonaro só foi o Bolsonaro de sempre quando cutucou o STF, quando colocou "exército" e "fraude" na mesma frase e quando criticou Lula. Mas não é com nenhuma dessas linhas de discurso que o presidente tentará se reeleger.

Os estrategistas da campanha do PL acreditam que a reeleição só virá se o Bolsonaro da antipolítica por substituído pelo Bolsonaro da política social. A primeira parte da equação é fácil de resolver. Bolsonaro, como ele próprio já admitiu, sempre foi 100% centrão. A segunda parte exige mais trabalho dos marqueteiros.

E a campanha está só começando.

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