Mais uma vez, a exemplo do que ocorreu quando se demitiu do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, há quase um ano, Sergio Moro tornou-se alvo colateral tanto do petismo quanto do bolsonarismo. A razão, claro, é uma mistura de cálculo eleitoral e vingança. Nenhum dos dois polos da política brasileira quer Moro candidato em 2022. E ambos têm suas razões para se vingar do ex-juiz — petistas, porque ele levou o ex-presidente Lula à prisão e, bolsonaristas, porque ele expôs as entranhas do uso privado das instituições da República pelo presidente Jair Bolsonaro.
Tudo isso, obviamente, tem a ver com a decisão monocrática do ministro do STF Edson Fachin, na semana passada, de anular e transferir para o Distrito Federal os processos contra Lula na Lava Jato, tornando-o automaticamente elegível.
Como bem descreveu o ministro Marco Aurélio Mello, foi uma "bomba atômica".
Fachin tentou evitar, com sua decisão que favoreceu Lula, que as alegações de parcialidade de Moro na condução dos processos da Lava Jato fossem discutidas e julgadas pelo STF.
Mas o ministro Gilmar Mendes, que está numa cruzada contra a Lava Jato, dobrou a aposta e colocou o tema para votação na Segunda Turma do STF. Kassio Nunes Marques pediu vistas e atrasou a conclusão de uma definição a respeito de Moro e do que vai sobrar da Lava Jato.
Politicamente, a decisão de Fachin desencadeou três movimentos no tabuleiro eleitoral.
O primeiro foi o passo à frente dado por Lula para se estabelecer como virtual pré-candidato à presidência em 2022, como ficou claro no discurso de 80 minutos que ele proferiu na quarta-feira (10).
O segundo consistiu em Bolsonaro e seu entorno acordando para uma perspectiva de reeleição bem menos promissora com a entrada de Lula no páreo. Enfrentar Fernando Haddad ou qualquer outro candidato do PT era uma hipótese mais confortável para o presidente, além do fato de que a ida para o segundo turno era dada como certa.
O terceiro movimento foi o de partidos de centro ou centro-direita tentando entender o que sobrou de espaço para viabilizar uma candidatura capaz de romper a polarização Lula x Bolsonaro em 2022.
Há uma ala dentro desse terceiro movimento que passou a considerar mais necessária do que nunca a entrada de Sergio Moro na disputa eleitoral para a presidência, apesar de sua decisão de ir trabalhar na iniciativa privada ter sido entendida como o abandono de qualquer plano eleitoral.
Integram essa ala partidos que já andavam sondando Moro como possível filiado, como o Podemos, da deputada federal Renata Abreu (SP) e do senador Álvaro Dias (PR), e o PSL, de Antonio Bivar.
Em entrevista na última quinta-feira (11), com a qual contribuiu este colunista, também João Amoêdo, ex-presidenciável do Novo, disse que via "com bons olhos" uma eventual candidatura de Moro.
Os olhares se voltam para o ex-juiz da Lava Jato por uma razão elementar: no centro político, a julgar pelas últimas pesquisas de intenção de voto, ele é considerado o nome mais forte para transformar uma disputa bipolar (Lula versus Bolsonaro) em uma campanha tripolar (Lula versus Moro versus Bolsonaro).
Sem o nome de Lula nas urnas, considerava-se a presença de Bolsonaro no segundo turno algo certo. Com Lula candidato e Moro candidato, nem essa possibilidade é tão garantida assim.
Moro candidato pode atrair o voto antipetista, mas desiludido com Bolsonaro. Apesar das mensagens nada republicanas entre o ex-juiz e procuradores reveladas no escândalo da Vaza Jato, 59% dos brasileiros acham que Moro foi imparcial ao julgar o ex-presidente Lula, segundo levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas.
Essa percepção pode mudar caso o julgamento no STF vá na direção contrária. Por isso, que ninguém se espante se, nas próximas semanas, bolsonaristas se juntarem a petistas na construção da narrativa de que o verdadeiro corrupto na Lava Jato era o juiz, não o seu principal réu.
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