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Diogo Schelp

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Internacional

O pior discurso presidencial da cúpula do clima veio da esquerda

O presidente do México, Lopez Obrador (Foto: HANDOUT/)

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O pior discurso da Cúpula de Líderes sobre o Clima, que ocorreu de forma remota nos últimos dias 22 e 23, por iniciativa do governo americano, foi proferido pelo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador. Conhecido pelas iniciais AMLO, o governante mexicano é um legítimo representante da esquerda populista e nacionalista latino-americana. O que isso significa do ponto de vista ambiental ficou bem claro em sua fala na cúpula climática.

O discurso de AMLO irritou ambientalistas mexicanos, decepcionou os americanos, escandalizou empresários comprometidos com o desenvolvimento sustentável e suscitou duras críticas de seus adversários políticos.

O presidente mexicano começou sua participação na cúpula vangloriando-se da descoberta de três reservas de petróleo no país. Segundo ele, o material extraído será destinado exclusivamente para a produção de combustível para o consumo interno. "Vamos acabar com a prática de exportar óleo cru e de comprar gasolina. Dessa forma ajudaremos a evitar o uso excessivo de combustíveis fósseis", disse AMLO.

Como bem observou o ex-presidente Felipe Calderón, a declaração não faz o menor sentido lógico. "Dá na mesma para as mudanças climáticas queimar petróleo aqui ou no exterior", escreveu ele no Twitter.

Na sequência, AMLO afirmou que está investindo em energia hidrelétrica, por ser limpa e barata. Mas omitiu o fato de que seu governo está revertendo políticas de incentivo para outras fontes renováveis de energia e que a maior parcela da eletricidade no país é gerada pela queima de combustíveis fósseis.

A maior parte do discurso do mexicano, porém, concentrou-se em um programa de reflorestamento chamado Sembrando Vida (Semeando Vida), que consiste em pagar a camponeses mexicanos para que plantem árvores frutíferas ou para exploração de madeira em suas terras. O programa é considerado um fiasco do ponto de vista ambiental, pois tem levado os pequenos proprietários a derrubar mata nativa para substituí-la por espécies exóticas. Em apenas um ano, o programa levou ao desmatamento de 73.000 hectares.

Mas AMLO acha a ideia ótima e quer ampliar o programa para os países da América Central. Mais do que isso, ele pediu que o governo americano pague pelo reflorestamento e dê aos produtores vistos temporários e talvez até direito à cidadania nos Estados Unidos.

"O governo dos Estados Unidos poderia oferecer a quem participa desse programa que, depois de plantar árvores em suas terras durante três anos consecutivos, tenham a possibilidade de obter um visto de trabalho temporários e, depois de outros três ou quatro anos, possam obter até residência nos Estados Unidos ou dupla nacionalidade", sugeriu AMLO.

Sim, é isso mesmo. O presidente mexicano sugeriu que o governo americano troque reflorestamento por green card.

A administração do presidente americano Joe Biden, anfitrião da cúpula do clima, recebeu a proposta estapafúrdia do mexicano com um misto de surpresa e ceticismo. Não se pode misturar migração com mudança climática, foi a resposta de Washington.

Em contraste com o discurso do presidente Jair Bolsonaro — elogiado pelo governo americano, com a ressalva de que são esperados resultados no curto prazo na redução no desmatamento no Brasil antes que qualquer ajuda financeira externa possa ser considerada —, o de AMLO não conteve nenhuma promessa de redução de emissão de gases do efeito estufa.

A emissão de gás carbônico per capita do México é cerca de 40% maior do que a do Brasil.

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