Em março deste ano completam-se 6 anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, no Rio de Janeiro. Sabe-se, a essa altura, depois de diversas idas e vindas nas investigações, quem são os suspeitos de terem executado o crime, que inclusive estão presos, e sabe-se que o assassinato foi encomendado. Mas até hoje não se chegou aos mandantes do homicídio e ainda não se descobriu a motivação.
Ao longo desses 6 anos, a demora na solução do caso não foi apenas um problema por causa da sensação de impunidade e da obrigação de punir os responsáveis para coibir outros crimes contra políticos, o que equivale a um atentado contra a democracia. A falta de solução para o caso também foi um problema porque alimentou a polarização e o ódio ideológico entre a direita bolsonarista e a esquerda radical.
Que se saiba o quanto antes quem mandou matar Marielle Franco e por qual motivo, e que o culpado seja submetido aos rigores da lei.
De um lado, bolsonaristas tripudiavam sobre a morte de Marielle e faziam disso um símbolo do seu desprezo pelas ideias que ela defendia e pelas causas que ela lutava. Em outubro de 2018, por exemplo, apenas alguns meses depois do assassinato, os então candidatos do PSL a deputado estadual e federal, respectivamente Rodrigo Amorim e Daniel Silveira, quebraram uma placa com o nome de Marielle que havia sido fixada em uma rua do Rio e posaram, sorridentes, com o resultado do seu feito. No ano passado, refizeram a cena, justificando que nunca se arrependeram do gesto porque "porque sempre deixamos claro que a nossa questão era com o Psol".
Jair Bolsonaro, imediatamente após o crime, foi o único pré-candidato à Presidência de 2018 que não lamentou ou condenou publicamente a morte da vereadora. O tom geral dos comentários iniciais dos três filhos políticos do futuro presidente sobre o assassinato foi de ironizar a repercussão internacional do caso, negar a hipótese de envolvimento de policiais no caso (o suspeito de ter disparado contra o carro da vereadora, Ronnie Lessa, é, de fato, ex-PM) e minimizar a gravidade do crime. "Para a democracia não significa nada. Mais uma morte no Rio de Janeiro", disse Bolsonaro um mês depois.
A verdade servirá a todos, à esquerda e à direita, menos a quem tem culpa no cartório.
Do outro lado, sobraram insinuações de que a cúpula do bolsonarismo, inclusive o próprio Bolsonaro, estava de alguma forma relacionada ao caso por sua proximidade com milicianos do Rio de Janeiro. Os adversários políticos de Bolsonaro valeram-se, para espalhar essa suspeita, de uma foto em que ele aparece ao lado de Élcio Queiroz, motorista do carro que perseguiu o veículo de Marielle para que Lessa pudesse executar o crime, e do fato de Lessa ser morador do mesmo condomínio que Bolsonaro e seu filho Carlos na Barra da Tijuca. Depois surgiu a informação de que o porteiro do condomínio havia afirmado, em depoimento à polícia, que Élcio havia visitado a casa de Bolsonaro no dia do crime. O porteiro depois voltou atrás no que disse, reconhecendo que se equivocou. Bolsonaro estava em Brasília naquele dia.
Diante de tudo isso, devia ser de interesse de Bolsonaro e de seu grupo político que o caso seja esclarecido de uma vez por todas, até para afastar esses rumores e acusações.
Agora, chega a informação, trazida pelo jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, de que Ronnie Lessa, que é apontado como o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson, fechou com a Polícia Federal um acordo de delação premiada. Falta a Justiça homologar a delação.
Élcio Queiroz já fez delação e entregou vários nomes, a maioria de pessoas que ajudaram na logística do crime, com o fornecimento de celulares e armas, desmanche do carro e outras medidas para destruição de provas. Entre os citados por ele está um conhecido bicheiro do Rio e pessoas ligadas a ele.
Mas é Ronnie Lessa quem pode de fato apontar o dedo para os mandantes. Que se saiba o quanto antes quem mandou matar Marielle Franco e por qual motivo, e que o culpado seja submetido aos rigores da lei. A verdade servirá a todos, à esquerda e à direita, menos a quem tem culpa no cartório.
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