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Diogo Schelp

Diogo Schelp

Internacional

A ‘rachadinha’ de Joe Biden, a espionagem russa e as eleições americanas

Joe Biden
Joe Biden, candidato democrata à presidência dos Estados Unidos (Foto: YURI GRIPAS/REUTERS)

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Acostumado a ser tratado com condescendência pela imprensa americana — que, no geral, odeia o presidente Donald Trump com todas as forças e sonha em vê-lo derrotado em sua tentativa de se reeleger este ano —, o candidato democrata Joe Biden ficou irritado ao ser perguntado, na sexta-feira (16), sobre reportagem de um tabloide nova-iorquino com acusações graves relacionadas ao período em que ele era vice-presidente dos Estados Unidos, na gestão Barack Obama (2009-2017). "Eu sabia que você ia perguntar. Eu não tenho resposta, é só mais uma campanha de difamação. É o tipo de pergunta que você faz", disse Biden ao repórter da CBS News que ousou questioná-lo.

Antes de explicar o caso em si, fica o registro: engana-se quem pensa que a tática de atacar jornalistas que colocam o dedo na ferida é exclusividade de poderosos de direita, como Trump ou o presidente Jair Bolsonaro. Políticos de esquerda também recorrem a ela, e não é de hoje. Trata-se, portanto, de um recurso diversionista apartidário e sem ideologia. Para quem não possui político de estimação, porém, existe a certeza: se uma pergunta incomoda, é porque algo tem.

O jornal New York Post publicou, na semana passada, o conteúdo de emails que teriam sido copiados de um notebook abandonado por Hunter Biden, filho do candidato democrata, em uma assistência técnica de um aeroporto americano. O material foi entregue ao periódico por Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, além de aliado, advogado e conselheiro informal de Trump. Facebook e Twitter restringiram a circulação da notícia em suas plataformas, sob a alegação de que têm origem ilícita e de que se trata, "potencialmente", de desinformação.

O conteúdo da reportagem é bombástico. Em resumo, sugere que Hunter valia-se do fato de ser filho do então vice-presidente dos Estados Unidos para fazer negócios com empresas da Ucrânia e da China. Os emails, se verdadeiros, indicam que Hunter conseguia reuniões de seus sócios e parceiros nesses países com seu pai. Reuniões, obviamente, que visavam a obter facilidades ou influência em interesses comerciais dessas empresas nos Estados Unidos.

Em um dos emails, cuja autoria é atribuída a Hunter, o filho do então vice-presidente chega a afirmar que tinha que dar ao pai metade dos pagamentos que recebia dessas empresas. Sabe-se, e isso já é fato confirmado, que Hunter tinha salário de 50.000 dólares para fazer parte do conselho de uma empresa de energia ucraniana com interesses nos Estados Unidos. Teria Joe Biden organizado uma "rachadinha" internacional com seu filho?

As suspeitas de que os Biden estavam envolvidos em um esquema de tráfico de influência durante a gestão Obama há muito são motivo de obsessão da parte de Trump. Foi a tentativa de obter informações comprometedoras sobre isso que levou o presidente americano a usar o cargo para pressionar o presidente ucrâniano a lhe entregar algo que pudesse usar contra Joe Biden. E essa tentativa levou à abertura de um processo impeachment de Trump no congresso americano — no qual ele foi absolvido.

Se forem autênticos, os emails de Hunter Biden têm potencial para derrubar o candidato democrata do cavalo da vitória eleitoral — ele está à frente de Trump nas pesquisas de intenção de voto. O problema é que a credibilidade do material pode estar contaminada na origem.

Giuliani não esconde que mantém contatos com agentes russos e, segundo uma reportagem do jornal The Washington Post, os serviços de inteligência americanos alertaram a Casa Branca que o ex-prefeito "está sendo usado para espalhar desinformação russa".

O FBI, a polícia federal americana, investiga se a espionagem russa está por trás dos emails publicados pelo New York Post. Se estiver, será uma repetição da interferência russa nas eleições de 2016, que buscava favorecer a candidatura de Donald Trump. Na ocasião, agentes ligados ao Kremlin invadiram e vazaram emails do comitê de campanha do Partido Democrata.

Tão importante quanto saber se há, mais uma vez, o dedo da espionagem russa nas eleições americanas é confirmar se os emails divulgados pelo jornal New York Post são autênticos. Se forem, Biden deve dar explicações claras sobre seu conteúdo. E é papel da imprensa americana colocá-lo contra a parede.

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