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Diogo Schelp

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Política

Reação de Lula à queda na popularidade eleva risco de intervencionismo econômico

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O presidente Lula (Foto: André Borges/EFE)

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O presidente Lula não está feliz com os números. Segundo pesquisa divulgada há duas semanas pelo Ipec (ex-Ibope), as avaliações positivas do seu governo (ótimo ou bom) caíram de forma abrupta no intervalo de um ano (o último levantamento do instituto havia sido realizado em março do ano passado), de 41% para 33%. Lula, que governa de olho na popularidade, acionou um alerta e começou a cobrar dos ministros maior visibilidade para entrega de obras e resultados.

Lula quer que os bons números da economia, que estão se mostrando melhores do que as previsões iniciais, se reflitam no otimismo da população. Méritos à parte, são números como a recuperação gradual dos empregos formais, o aumento no rendimento médio desses empregos, o crescimento do PIB, a inflação controlada e os juros em tendência de queda. Lula quer que esses dados sejam perceptíveis aos cidadãos, que pareçam concretos no dia a dia. Trata-se de uma abordagem atropelada, quase desesperada. E que embute o risco de aumentar ainda mais a sanha intervencionista do presidente.

O imediatismo de Lula na busca por popularidade é uma estratégia afobada. É uma maneira de cavar o buraco no qual ele próprio pode se afundar.

A pressa em reverter a queda na popularidade é exagerada. Lula apenas completou um ano de mandato e ainda há muito chão pela frente para esse governo. É natural que a popularidade seja maior no início do governo e que depois as expectativas se ajustem à realidade. E também é normal que a evolução dos dados macroeconômicos demorem um tempo para se refletir na percepção de melhora de vida junto à população.

Mas Lula tem pressa, e não é só porque ele está preocupado com as eleições municipais deste ano. Nesse terceiro mandato, mais do que nunca, ele governa de olho na popularidade por dois motivos. Primeiro, porque teme perder as rédeas da governabilidade. O Congresso não tem dó nem piedade de governantes impopulares, que o diga a ex-presidente Dilma Rousseff. Nessas circunstâncias, os parlamentares elevam o custo da governabilidade, dificultando a aprovação de projetos de interesse do governo e aumentando a pressão para pegar um naco maior do poder, aumentando, por exemplo, a influência na distribuição dos recursos do Estado.

Segundo, Lula se preocupa com a queda de popularidade porque enfrenta uma situação que não existiu nos seus dois primeiros mandatos: ele tem um adversário político, Jair Bolsonaro, que, mesmo acuado pela Justiça, mobiliza multidões.

O grande risco do imediatismo popular de Lula, essa ansiedade para recuperar os índices de aprovação, é de isso aumentar a sua postura de intervencionismo na economia. Desde antes de assumir a Presidência, Lula pressiona para aumentar a arrecadação para jogar dinheiro em obras e em programas de melhoria de renda dos mais pobres — que é justamente a camada da população em que a popularidade dele mais derreteu nos últimos meses.

O intervencionismo lulista também se reflete nas interferências do governo na gestão de empresas como a Petrobras e a mineradora Vale. No caso da Petrobras, o governo quer que dividendos sejam usados para aumentar investimentos. Ou seja, em vez de contemplar acionistas, ele quer que a empresa aumente seu papel como catalisadora direta de empregos e da economia. Também já existe o risco de interferência do governo no preço dos alimentos, que tiveram alta nos últimos dois meses.

Se o governo fizesse tudo certo na economia, os resultados para a população começariam a aparecer em um ou dois anos, a tempo de ele colher esses frutos nas próximas eleições presidenciais. Mas o intervencionismo pode colocar tudo isso a perder. A sanha arrecadatória, por exemplo, atrapalha os investimentos privados, impede que o Brasil melhore seu nível de produtividade e acaba freando o crescimento econômico. No médio e no longo prazo, é um erro.

Há outras mudanças que Lula poderia adotar para melhorar sua popularidade. Fala-se muito no aspecto econômico, na percepção de melhoria de vida principalmente entre os mais pobres. Mas o fator ideológico não é irrisório, principalmente entre os evangélicos. A pesquisa Ipec mostrou que o governo Lula tem uma avaliação ruim ou péssima entre 41% dos evangélicos (o dado geral da população é de 32%).

Apesar de ter empurrado a pauta progressista nos costumes para baixo do tapete, Lula não descobriu como se aproximar desse público, e certamente suas atitudes em política externa nos últimos meses, principalmente as críticas ferrenhas a Israel, não ajudam nesse sentido.

O imediatismo de Lula na busca por popularidade é uma estratégia afobada. É uma maneira de cavar o buraco no qual ele próprio pode se afundar, levando junto qualquer chance de melhoria de vida duradoura para os brasileiros.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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