Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas em encontro em dezembro de 2022, depois que o governador eleito afirmou não ser “bolsonarista raiz”| Foto: Reprodução/Redes Sociais
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A aprovação na Câmara dos Deputados da primeira fase da reforma tributária, a que versa sobre o consumo, na semana passada, marcou a primeira derrota política de Jair Bolsonaro como líder inelegível da oposição ao governo Lula. Mesmo com a orientação do ex-presidente para que os deputados do seu partido, o PL, votassem contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos tributos, duas dezenas deles acabaram votando a favor. Mais ainda: antes da votação, Bolsonaro enfrentou a divergência de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e seu afilhado político, em relação ao tema. Mas esse ainda não foi o momento do racha decisivo entre os dois. Pois, por enquanto, Tarcísio precisa de Bolsonaro e Bolsonaro precisa de Tarcísio.

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Bolsonaro errou ao contaminar a discussão técnica sobre votar ou não a favor da reforma tributária com toques de vingança pessoal. Havia um argumento contrário à votação apressada, sem uma análise aprofundada de mudanças na lei feitas de última hora. Isso foi mencionado por Bolsonaro e por outros que se opuseram à PEC, mas ficou em segundo plano diante da postura intransigente do ex-presidente e da nota que ele divulgou antes do encontro com Tarcísio no PL.

Oposição destrutiva foi o que o PT fez durante o governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo. Inaceitável repetir o mesmo, com o sinal trocado.

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A tal nota começa dizendo: "Não à Reforma Tributária do PT: Lula se reúne com o Foro de SP (criado em 1990 por Fidel, FARC, ...), diz ter orgulho de ser comunista, que na Venezuela impera a democracia, é amigo de Ortega que prende padres e expulsa freiras e seu partido comemorou a minha inelegibilidade. Só por isso, caso fosse deputado, votaria ao longo de todo o meu mandato contra tudo que viesse do PT."

Ou seja, antes de qualquer outro argumento, Bolsonaro defende votar contra qualquer projeto defendido pelo governo Lula por revanchismo político ou por divergências ideológicas que nada têm a ver com o tema em debate. Lula defende ditadores de esquerda e isso merece todo o repúdio. Mas isso justifica votar contra projetos de interesse do país? A reforma tributária não é um projeto só do governo, é uma agenda de Estado. Os textos que lhe serviram de base, inclusive, foram elaborados em discussões parlamentares ocorridas no governo anterior, de ninguém menos que o próprio Bolsonaro.

O argumento de Tarcísio na reunião, e que lhe rendeu a vaia de alguns deputados, é que estava correto. Pragmático, o governador lembrou que se o PL votasse em bloco contra a reforma, o partido ficaria marcado como aquele que tentou barrar uma pauta importantíssima para o desenvolvimento do país, simplificando os impostos e aperfeiçoando o capitalismo brasileiro. Perderia, então, a "narrativa" de oposição responsável, que busca o bem do país. Oposição destrutiva foi o que o PT fez durante o governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo. Inaceitável repetir o mesmo, com o sinal trocado.

Inelegível por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ex-presidente precisa se manter relevante politicamente e reforçar seu papel no PL.

Depois da votação da reforma tributária na Câmara, Bolsonaro modulou o discurso e afirmou que defende um debate aprofundado sobre o tema no Senado, para onde o projeto seguiu. E procurou Tarcísio para reduzir as tensões — intensificadas entre outros fatores por postagens bastante agressivas de gente muito próxima de Bolsonaro nas redes sociais.

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Tarcísio tem afirmado que uma candidatura à presidência em 2026 não está no seu radar. Ele trabalha para fazer uma gestão exemplar em São Paulo e buscar uma reeleição fácil, para completar o ciclo e deixar um legado para o estado. Para essa tarefa, ele precisa de Bolsonaro, pelo menos por enquanto.

Primeiro, por uma questão de governabilidade. Os deputados estaduais bolsonaristas têm sido o fiel da balança em votações na Assembleia Legislativa, principalmente em temas nos quais partidos que se declaram independentes, como a federação PSDB-Cidadania, se colocam contra os interesses do governo.

Segundo, porque seria ruim para Tarcísio enfrentar o desgaste de ataques vindos de figuras influentes da direita, como os filhos de Bolsonaro e Ricardo Salles (PL-SP), deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente. Salles não parece disposto a balançar a bandeira branca para Tarcísio, acusando-o de fingir ser de direita e de ter um secretariado quase todo de esquerda. É evidente que, para Tarcísio, seja qual for o seu projeto eleitoral para 2026 (presidência ou governo do estado), é fundamental manter uma forte base de apoio à direita. Esse é o nicho eleitoral que ele precisa manter, e enfrentar atritos com expoentes desse grupo desde já por óbvio não lhe interessa.

Bolsonaro precisa de Tarcísio porque o governador é atualmente seu aliado político mais poderoso.

Bolsonaro, em entrevista à Jovem Pan News depois da votação da reforma tributária na Câmara, desautorizou as críticas feitas por Salles e minimizou o desentendimento com Tarcísio. Disse que ele o governador é "técnico", mas politicamente inexperiente.

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Bolsonaro precisa de Tarcísio porque o governador é atualmente seu aliado político mais poderoso. E Bolsonaro necessita de aliados. Inelegível por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ex-presidente precisa se manter relevante politicamente e reforçar seu papel no PL, onde ocupa um cargo de presidente de honra e um salário polpudo. Os desafios de Bolsonaro na Justiça não acabaram. A possibilidade de prisão, como defendem alguns esquerdistas mais empolgados, é remota, mas ainda há o risco de ele perder os direitos políticos por causa de uma ação que corre no TCU (Tribunal de Contas da União). Isso impediria Bolsonaro de atuar inclusive como liderança partidária. Diante de um cenário de incerteza como esse, tudo o que o ex-presidente não pode se permitir é se isolar politicamente.

Bolsonaro, por enquanto, também precisa ceder ao jogo de Valdemar Costa Neto, cacique do PL, que nutre o sonho de atrair Tarcísio, filiado ao Republicanos, para o seu partido — antevendo a possibilidade de que, em 2026, o governador será de fato o nome mais forte para a presidência, carregando consigo o eleitorado fiel a Bolsonaro, que não poderá se candidatar.

Em algum momento, porém, o ex-presidente precisará optar entre apoiar para a presidência um nome de seu círculo de alianças, como Tarcísio ou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ou alguém de dentro de casa, como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Se a opção for pelo segundo caminho, manter a aliança com Tarcísio também será importante — seja para influenciar na sua decisão de buscar a reeleição a governador, seja para acusá-lo de traição e desidratar sua base eleitoral caso tente alçar um voo solo rumo à presidência.

No final do ano passado, já eleito governador de São Paulo, Tarcísio declarou em uma entrevista que não era um "bolsonarista raiz". Foi criticado e atacado por seguidores de Bolsonaro. Para reafirmar o vínculo entre os dois, Tarcísio visitou então presidente e publicou nas redes sociais a foto que ilustra este artigo, acompanhada da seguinte declaração de fidelidade:

"Se estou hoje aqui, é porque Jair Bolsonaro confiou em mim e no trabalho de um técnico que em 2018 ninguém conhecia. Ele tem minha eterna admiração e gratidão." Mesmo com os solavancos da semana passada, a confiança do padrinho e a gratidão do afilhado político perduram. Por enquanto.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]