Estar nos locais de provas na Olimpíada de Londres está sendo incrível. Mas, como diria o ídolo Alvinho Garneiro, essa ainda não é a minha Londres.
O mais bacana de tudo aqui é, definitivamente, caminhar e ver a quantidade absurda de pessoas de tantos países que existe na cidade. É cada figura que a gente aí no Brasil nem tem noção. Gente de tanto lugar, mas de tanto lugar, que eu acho que o ET de Varginha só não veio parar por aqui porque ficaria frustrado em ser apenas mais um na multidão. Definitivamente, ninguém daria pelota para ele em Londres.
Ontem, depois de uma entrevista na Vila Olímpica, decidi ir mais cedo para o Crystal Palace, o centro de treinamentos da delegação brasileira em Londres, para a coletiva da lutadora de taekwondo Natalia Falavigna. Tive de ir até a estação de Whitechapel para pegar outro trem a caminho do Crystal Palace. E, como ainda tinha tempo de sobra, decidi sair da estação para comer algo.
Eis que quando ponho o pé para fora, a sensação era de que havia sido teletransportado diretamente para um pedaço da Ásia, mais especificamente, Bangladesh. Em frente à estação havia uma feira de imigrantes enorme, vendendo todos os tipos de produtos: roupas, bugigangas, brinquedos, doces, peixes, celulares e até sapatos usados – mas tão usados que um deles estava com a sola furada. Tudo manejado por homens barbudos vestindo camisetas que iam até quase o joelho.
No ar, o cheio de incenso misturado ao de frituras se juntava ao barulho dos ambulantes anunciando o preço dos produtos. Um zum-zum-zum impossível de distinguir e que você só descobre que os vendedores e os clientes não estão em vias de fato quando olha para eles e percebe que, apesar do tom, aquela é uma conversa civilizada
A estação de Whitechapel fica do lado (ou ao fundo, não consegui distinguir direito) do The Royal London Hospital, o maior da Grã-Bretanha. Outra curiosidade é que o bairro, além da grande presença da comunidade asiática, também era a área de atuação do criminoso mais famoso do Reino Unido. Jack, o estripador, tinha predileção por atuar por ali pelo fato de Whitechapel concentrar a maioria das prostitutas londrinas no fim do século 19 – estimativa da polícia de 1888 aponta que existiam cerca de 1.200 mulheres se prostituindo em 62 bordéis da região à época.
Quanto ao ET de Varginha, diria que hoje, depois de tanto tempo adaptado a Minas Gerais, ele não teria mais problema em vir para Londres. Ao menos na ambientação. Afinal, com tanta gente do mundo todo por aqui, não é tão difícil encontrar pão de queijo na capital britânica.