Há cinco dias em Londres e eu ainda não havia degustado um fish and chips (peixe e batatas fritas), o prato mais clássico da culinária local. No caminho de volta de Wimbledon, ontem, vislumbrei a oportunidade ideal, naquela que se intitula a casa do acepipe “original”.
A versão large (grande) saiu por 7,50 libras, algo em torno de R$ 26. Caro, mas valeu pela viagem gordurosa transcendental. O prato é tudo o que você sonha em comer quando pretende partir para a ignorância.
O peixe em questão é o cod, comum na região do Reino Unido. Após alguns minutos observando-o nadar de frente e de costas na banha, finalmente fui servido. E, olha que maravilha, o naco pintou no formato do mapa do Brasil, cobrindo um oceano de batatas fritas.
E bastou a primeira mordida para a revelação. O óleo retido na casquinha fina que envolve o carne jorrou pela corrente sanguínea, preencheu as veias e projetou-me 50 anos no futuro.
Já idoso, trajando training e sapato com meia social marrom, estou apavorando os meus netos, de forma sadia, usando um pedaço de laranja na boca. De repente, despenco no chão, fulminado com décadas de atraso pelo hype da baixa gastronomia.
Agora, voltando… achei o peixe um tanto sem graça. As batatas encantaram mais. Primeiro, são parrudas. Lembram aquelas antigas, do tempo das fritas “moleque”, que pulava o muro e jogava bomba cabeça de nêgo no vizinho.
No fim das contas, vale a experiência, claro. Principalmente, porque a fome morre na hora.