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Eduardo Ribeiro

Eduardo Ribeiro

Análise

A história das vacinas e o obscurantismo

(Foto: Gazeta do Povo)

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A vacina é, certamente, uma das maiores invenções da história da medicina. Com mais de dois séculos de história e milhões de vidas salvas todos os anos, as campanhas de vacinação mudaram a trajetória da espécie humana e ampliaram em muito a nossa qualidade de vida. Mas, como tudo que é vanguarda na Ciência, trouxe reações contrárias de camadas da sociedade regidas pelo obscurantismo e pelo fundamentalismo.

Os críticos assumiram diversas posições ao longo do tempo, indo de argumentos teológicos à fraude científica. E em meados do século XIX os movimentos começaram a se oficializar, com as ligas antivacinação nos EUA e Inglaterra.

Edward Jenner é considerado o fundador da vacina no Ocidente em 1796, depois que inoculou um menino de 13 anos com o vírus da varíola bovina e demonstrou imunidade à varíola humana. Alguns dos primeiros opositores da vacinação, incluindo membros do clero, acreditavam que a vacina era “anticristã” porque vinha de um animal. Para outros, o descontentamento refletia uma desconfiança geral nas ideias de Jenner sobre a disseminação da doença. A teoria dos germes, que provou a existência de microrganismos, só surgiria décadas mais tarde.

A vacinação andava a passos lentos. Mesmo com uma vacina segura, eficaz e barata disponível, a varíola continuou fazendo milhões de vítimas na Europa e Estados Unidos durante todo o século XIX e início do XX, não só pela falta de estrutura, mas essencialmente por causa da desinformação. No final do século XIX, diversas sociedades antivacina surgiram nos Estados Unidos, travando longas batalhas judiciais para derrubar as leis de vacinação em seus estados. No mesmo período, a lista de surtos de doenças evitáveis cresceu, mesmo com o surgimento de novas vacinas.

Os movimentos antivacina voltaram a gerar controvérsias a partir da década de 1970. Alegações de que a DPT (vacina tríplice contra difteria, coqueluche e tétano) causaria problemas neurológicos em crianças derrubaram gravemente as taxas de vacinação no período. Mesmo com estudos posteriores desmentido os rumores, o estrago já havia sido feito. Mais recentemente, a tríplice viral foi a bola da vez: um artigo publicado em 1998 relacionava a vacina a casos de autismo. Anos depois, ficou claro que o estudo havia sido deliberadamente fraudado, sendo seu autor condenado por má conduta profissional.

As vacinas disponíveis contra a COVID-19 - que já ceifou quase 1,6 milhões de vidas - também se tornaram alvo desses grupos. Alegações de que a tecnologia de RNA mensageiro alteraria nosso material genético pipocam na internet, apesar das dezenas de milhares de testes e nenhuma evidência nesse sentido. Em alguns casos, a conspiração se torna ainda mais mirabolante, envolvendo microchips do fundador da Microsoft e filantropo Bill Gates.

A primeira vacina na corrida para imunizar a população contra o novo coronavírus começou a ser aplicada esta semana no Reino Unido. Ainda não se sabe quando teremos alguma vacina por aqui. E isso é, em grande parte, culpa da desorganização do Ministério da Saúde e do Governo Federal. Porém, quando ela estiver disponível, não caia em fake news. Seja responsável, vacine-se. Movimentos antivacina já custaram muitas vidas, dor e sofrimento ao longo dos últimos dois séculos.

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