Na semana passada, o Ministério da Economia perdeu mais dois membros valiosos para a implementação da agenda liberal prometida por Bolsonaro em sua campanha. Salim Mattar e Paulo Uebel pediram demissão de seus cargos, descontentes com a falta de comprometimento de agentes do próprio governo com as reformas liberais, sobretudo com a demora em dar prosseguimento às privatizações e à Reforma Administrativa.
As mudanças estruturais do estado nunca foram prioridade em setores do governo eleito. Agora, a própria cúpula governamental admite isso, ao receber nos salões do Palácio do Planalto seus novos aliados, membros do Centrão, grupo que depende de ações antirreformistas para arregimentar cada vez mais poder.
O Centrão não é algo novo. Existe desde a redemocratização, mas foi se transformando e se consolidando em uma espécie de frente suprapartidária, formada majoritariamente por cerca de 220 parlamentares do chamado baixo clero e meia dúzia de caciques, que, unidos, conseguem ser o fiel da balança em qualquer votação.
Sua composição não é cristalina, mas inclui o Progressistas, Republicanos, Solidariedade, PL e PTB, além de contar, muitas vezes, com a participação do PSD, DEM, MDB, PROS, PSC, Avante a Patriota. Estamos falando de praticamente metade da Câmara Federal.
A ideologia é o clientelismo, a realpolitik na sua forma mais crua, sem o menor pudor em trocar abertamente cargos e vantagens por apoio político, independente de quem esteja no governo. Só há uma condição: manter o modelo de Estado que garante a permanência deste grupo no poder.
Órgãos públicos, bancos públicos, empresas estatais, política econômica desenvolvimentista, populismo fiscal, Fundo Eleitoral e burocracias em excesso concedem a eles um imenso poder decisório, discricionário e influência. E não há, necessariamente, um componente ideológico para um fim social cujo meio seja o fortalecimento do Estado. O objetivo final é, simplesmente, usar toda essa estrutura para se manter no poder. Eles precisam disso e vão fazer de tudo para garantir que fique como está. Não à toa, quanto maior o orçamento do órgão, mais importante ele se torna na negociação. E não à toa também, o fim do Teto de Gastos passa agora a ser uma possibilidade.
Portanto, é completamente equivocado, e até ingênuo, justificar uma aliança com o Centrão em nome da governabilidade e das reformas estruturais. Ao menos não das reformas que nós, liberais, defendemos para um país sustentável. Pois qualquer mudança que atinja o estamento burocrático e suas redes de influência, reduzindo o tamanho e o poder do Estado, consequentemente comprometerá a força eleitoral destes grupos e suas reeleições.
Para piorar, o histórico do Centrão perante a Justiça está longe de ser trivial, e só reforça a velha máxima: mais Estado, mais corrupção. Um quarto de toda a composição do bloco responde por crimes que vão desde lavagem de dinheiro até fraudes em licitações.
Recentemente, o líder do Solidariedade foi condenado a 10 anos de prisão pelo STF por desvios de empréstimo do BNDES , o líder do Progressistas foi denunciado por corrupção na Lava Jato, sob a acusação de ter recebido volumosas propinas da empreiteira Queiroz Galvão ). Além deles, o recém elencado ao posto de líder do governo, também do Progressistas, aparece como peça central de uma delação premiada que envolve tráfico de influência e propina nas negociações com a Copel, estatal paranaense de energia.
É óbvio que a agenda liberal e do combate à corrupção - promessas eleitorais de Bolsonaro - são o oposto da agenda pro-establishment do Centrão. São universos paralelos e não há meio termo, é uma coisa ou outra. Resta ficar claro agora qual a agenda do Presidente da República.
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