Em minhas reflexões, pesquisas e palestras sobre educação, criatividade, filhos e a Escola nos tempos atuais, tenho centenas de rascunhos, dúvidas, críticas, anotações , soluções e ideias que dariam um livro talvez.
Tenho também devorado livros de pensadores que admiro e que há muito tempo defendem a nova educação e a nova escola, como Domenico De Masi em seu brilhante Grupos Criativos – Fantasia e Concretude ou Rubem Alves que sempre sonhava com escolas que dão asas e não escolas que são gaiolas. E Ken Robinson, educador inglês, que com Lou Aronica, recentemente lançou um livro e um movimento chamado “Creative Schools – “The Grassroots Revolution That’s Transforming Education”. Escolas Criativas, as raízes da revolução que transformará a educação. E tantos outros que não vem ao caso listar aqui.
Como ainda não tenho pretensão de escrever meu livro sobre tudo que penso e acredito para a educação (eu disse ainda), mesmo tendo muito desejo para, resolvi apenas escrever 10 coisas que mais ODEIO em relação ao que chamamos de ESCOLA e ao mesmo tempo sugerir algumas ideias, afinal muito mais fácil criticar do que ter coragem de apresentar soluções. O propósito desse artigo é provocar alguns insights, compartilhar posições e também receber comentários e críticas, afinal não sou e nunca serei dono de verdade alguma, e para que um dia quem sabe eu possa me aprofundar em um livro.
Vale antes ressaltar que comungo com a opinião desses e outros vários pensadores e educadores de que a ESCOLA talvez seja ainda a organização menos inovadora e resistente às mudanças contemporâneas dentre diversas outras instituições da sociedade, no Brasil e no mundo. Repetimos um sistema que pouco se adaptou ou aceitou mudanças e a inovação do mundo. Talvez porque aceitar mudanças e inovar dá trabalho e exige esforço e aceitação de todos. E para muitas torna-se mais conveniente repetir o mesmo de 30 ou 40 anos, afinal já está ensaiado, decorado e ainda pagamos por isso mesmo assim.
Mas então vamos à lista das 10 coisas que ODEIO e 10 possíveis soluções. Mas para tanto, farei a publicação em quatro doses (partes), para não me alongar e refletirmos passo a passo juntos ao longo desses meses.
1 – Padronização e massificação de alunos
Com raras exceções, o sistema escolar atual ainda privilegia a padrozinação em massa em detrimento da valorização da diversidade de talentos e diferenças. Conteúdo e aulas aplicadas da mesma maneira e padrão sem a preocupação de que talvez mais da metade dos alunos em sala de aula não estejam efetivamente aprendendo coisa alguma. Partindo do princípio que dois alunos não aprendem da mesma maneira, é evidente que o sistema atual, expositivo e padronizado não contribui para que a aprendizagem possa acontecer de forma democrática, prazerosa e eficaz. Alguns alunos assimilam facilmente, outros se esforçam para manter a média, enquanto outros penam para passar de ano. Sempre se jogou a culpa integral na aprendizagem, mas como já disse sabiamente uma vez José Pacheco: o problema muitas vezes está na ensinagem e não na aprendizagem. Num mundo que cada vez mais exige autenticidade e protagonismo, não podemos aceitar que escolas continuem a estimular o mais do mesmo e a negligenciar talentos e habilidades dentro da sala de aula, apenas para preservar seu conforto e padrão. Precisamos de alunos menos repetidores e mais criadores.
Solução
Uma vez ouvi de uma diretora da escola Terra Firme, o seguinte pensamento que muito me impactou: “Há aulas que são fáceis de dar, mas difíceis de aprender. Mas há aulas que são difíceis de dar e fáceis de aprender”. Sempre acreditei no poder que um professor possui dentro de sala que pode encantar mentes ou bloquear sonhos. É preciso que o professor entenda seu crucial papel no desenvolvimento daquelas crianças na sala de aula. Que há diferenças, cabecinhas ávidas por aprender de maneiras diferentes. Independente de sistema e métodos de ensino, o professor deve pensar, debater e aplicar estratégias que possam permitir que todos os alunos se envolvam e aprendam. Não é possível tolerar deixar alunos à margem quando o aprendizado não está acontecendo para boa parte deles. Um professor pode e deve se utilizar de ferramentas, histórias, projetos, desafios, jogos, analogias e tantos outros elementos que a criatividade permite que podem fazer a diferença para seus alunos. Ele deve investir no relacionamento verdadeiro, o vínculo, na proximidade. Já dizia Howard Gardner em sua teoria das múltiplas Inteligências que todos nós possuímos habilidades e inteligências únicas e que para serem acessadas precisam ser valorizadas. Por isso, cabe sim a Escola e ao professor identificarem estratégias, métodos e pedagogias que possam dar oportunidade para todos aprenderem e mostrarem seu potencial na sala de aula.
2 – Lição de casa
Acho tóxica e quando em excesso mortal. Escolas insistem numa prática pouco eficaz e já muito contestada por escolas mais inovadoras. Encher crianças e jovens de lições de casa que apenas repetem o que foi dado em sala de aula, que são extremamente mecânicas e cansativas, pouco agrega no real aprendizado. E pior, em excesso, estrangulam a curiosidade e a vontade de aprender das crianças, elementos essenciais para que aprendam verdadeiramente. Além disso, vejo a lição de casa aplicada pela maioria das escolas como uma prática obsessiva e ao mesmo tempo confortável por parte das instituições pois assim delegam a repetição e a decoreba, ao invés do estímulo ao pensar e do criar. Também conveniente aos pais que querem ver os filhos “ocupados” com lições”, afinal também tinham que fazer isso no seu tempo de escola. E como consequência vemos crianças e jovens obsessivos em reproduzir conteúdo, e ansiosos por cumprir metas, e tão menos dispostos a questionar, criar e pensar. Escolas jogam densos conteúdos de lição de casa que fazem com que crianças passem quase uma tarde ou manhã toda dedicada a ela, e em sua agenda há pouquíssimo tempo para o lúdico, para o brincar, para o esporte, a dança ou a arte. Tirar esse tempo da criança, é condená-la a viver em função da escola quase em tempo integral e não dar a ela a oportunidade de desenvolver habilidades fundamentais para seu crescimento e que dependem de tempo, movimento e espaço.
Minha solução
Não sou radical ao dizer que a lição de casa deva ser abolida. Mas deve sim ser repensada em diversos aspectos e sua quantidade deve ser apenas para um complemento em dose certa ao estudo do aluno. Toda criança ou jovem espera algo que o desafie e desperte sua curiosidade. Então porque não sugerir uma lição de casa diferente, que saia dos livros e apostilas prontos e que gere estímulo verdadeiro. Que estimule também a capacidade autoral dos alunos e não apenas sua capacidade de preencher espaços em branco e responder perguntas e exercícios óbvios. Sugerir uma pesquisa num museu, ou fazer um vídeo sobre o que entendeu sobre o assunto debatido em sala, ou até desafiá-lo a uma foto que exemplifique o conteúdo exposto. O professor de Português pode sugerir para que os alunos criem poesias sobre coisas que encontrem no jardim. O professor de matemática pode sugerir que assistam uma aula da Kahn Academy e façam sua própria aula de 3 min em vídeo explicando algo para que os colegas assistam. O professor de história pode pedir uma visita ao museu da cidade para que ela tire fotos e faça um infográfico sobre um tema abordado em sala de aula. Ou o professor de ciências pedir que façam um experimento simples em casa e que prove alguma teoria cientifica na prática. É pedir muito? Talvez sim para muitas escolas e professores, afinal como já disse, inovar dá trabalho e exige esforço. Além de ser conveniente para que alguns professores consigam justificar que atolaram seus alunos de lição, e que portanto qualquer problema de aprendizagem não é problema dele e sim do próprio aluno. Mas para os alunos pode significar a alforria das lições chatas e repetitivas e o desafio para que mostrem sua capacidade de criar, pesquisar, colaborar e realizar de maneira diferente. E por fim, sou a favor de abolir a lição de casa de sexta feira para que os alunos tenham o final de semana livre e não levem trabalho pra casa. Assim podem relaxar, curtir a família e o ócio criativo. E lição de férias então… jamais.
Aguarde! No próximo mês, a parte II, com mais doses das 10 coisas que mais odeio na escola.
*Artigo escrito por Jean Sigel, especialista em Marketing, Comunicação e Inovação, e co-fundador da Escola de Criatividade. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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