De acordo com uma recente pesquisa financiada pelo Google, quatro em cada dez brasileiros recebem “fake news” diariamente. Esse número pode ser ainda maior considerando que identificar desinformação nem sempre é algo simples e rápido, o que acaba afetando as pessoas de formas diversas.
As crianças e os adolescentes, infelizmente, também não escapam desse fenômeno. É preciso desconstruir a ideia de que eles são menos vulneráveis a conteúdos maléficos apenas por terem nascido num mundo conectado. A facilidade que o público infantojuvenil tem diante da tecnologia não significa maturidade para enfrentar os perigos virtuais que os cercam, como cyberbullying, desafios virtuais, exposição excessiva e outros tipos de riscos e violências que rondam as redes sociais.
Eles precisam desenvolver habilidades e competências para lidar com o volume de mensagens midiáticas de maneira responsável e crítica. Nesse contexto, a escola tem papel fundamental na orientação e preparo das novas gerações. O melhor “antídoto” para lidar com essa situação complexa é justamente a educação midiática.
Neste artigo, separamos cinco dicas que podem ajudar educadores e equipes pedagógicas a abordarem o assunto em sala de aula:
Promova investigações com as turmas utilizando as mídias
Manga com leite faz mal? Vacinas causam autismo? O aquecimento global existe? Receber informações duvidosas hoje é parte do cotidiano, e nada melhor do que utilizar a checagem de fatos para encontrar respostas. Incentive a pesquisa sobre as notícias e mensagens que eles têm recebido recentemente e compartilhe os resultados na sala de aula.
Projetos como o #FakeToFora, do Instituto Palavra Aberta, e o HoaxBusters, liderado pelo professor Estevão Zilioli, são exemplos de iniciativas que buscam aproximar as técnicas jornalísticas da pesquisa escolar. Promover investigações a partir de uma pergunta disparadora é fundamental para reforçar comportamentos que já fazem parte do dia a dia do aluno em diferentes disciplinas, como a análise de dados e o registro das informações.
Transforme os estudantes em produtores de notícias
Saber como o processo jornalístico funciona ajuda os jovens a valorizarem a informação de qualidade e, consequentemente, a identificarem notícias falsas. Além disso, ao produzirem peças midiáticas em grupo, os alunos podem refletir sobre aquilo que consomem quando estão online. O campo jornalístico-midiático da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê a abordagem desse tipo de conteúdo, já que a habilidade de composição de textos e vídeos é importante para todas as áreas do conhecimento.
A imprensa mirim da escola poderá utilizar os recursos tecnológicos disponíveis e as redes comuns para alunos e professores. Caso a escola não disponha de infraestrutura mínima, é possível improvisar com papéis e lápis, desenhando jornais de forma artesanal. O importante é definir o que será capturado, qual será o roteiro e como será feita a apuração da investigação, já que o objetivo é promover reflexões sobre as escolhas que fazem e como isso ocorre com os conteúdos que consomem.
Avalie “memes” que brincam com situações do cotidiano
Os “memes” podem ser importantes aliados no trabalho do educador quando o assunto é letramento midiático. Eles promovem uma comunicação eficiente, rápida e articulada, próxima ao universo dos estudantes. Além disso, esse tipo de conteúdo abre espaço para leitura crítica, protagonismo do aluno e aumento do repertório. O debate sobre produções virais também é uma maneira de discutir ética na escola, além de promover a discussão sobre intenção, autoria e contexto, habilidades fundamentais para a vida no século XXI.
Incentive a análise reflexiva de filmes, séries e programas de TV
Assim como a escola é competente na orientação da leitura cuidadosa de livros, perguntando quem é o autor, quando foi escrito e editado, o mesmo pode ser feito em relação às mídias. É essencial identificar autoria e o propósito por trás de um texto ou vídeo para não reproduzir inverdades.
Sempre que os estudantes forem confrontados com alguma produção midiática, é importante destacar como os aspectos técnicos contribuíram para a construção daquela mensagem, desde a escolha de imagens até ângulos e cores. Tudo isso contribui para exercitar um olhar analítico com relação aos conteúdos, seus significados e mensagens.
Fique atento à linguagem utilizada nas informações que encontrar
A mensagem recebida causou algum tipo de emoção ou pede uma ação imediata? Peça aos estudantes que aguardem antes de compartilhá-la. Precisamos formar uma nova geração de bons leitores na internet. Ao encontrar algo que parece inédito e que está de acordo com o que o aluno pensa (o chamado de viés de confirmação), é preciso pausar e avaliar a fonte. Mostre isso a ele.
Assim, unindo a análise cuidadosa das informações com a produção autoral, poderemos contribuir para desenvolver o olhar crítico dos alunos e prepará-los para os desafios da sociedade conectada. Incentivar o letramento multimídia e a segurança digital são alguns dos grandes legados que a escola poderá deixar para as novas gerações.
Elisa Tobias é educomunicadora, analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta e colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS