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5 mudanças de mentalidade essenciais para educadores(as)

Paulo Freire já havia nos alertado: não se pode ensinar  técnica sem falar de ética. Uma educação que se propõe à “neutralidade” do ponto de vista ético é apenas parcial, não produz a libertação da qual Freire tanto falava.

Ainda assim, não existe receita para educar pessoas eticamente. Principalmente porque somos muitos e muitas, com necessidades, expectativas e habilidades diferentes. Talvez por essa mesma razão é que, se ansiamos mudanças de comportamento nos outros, podemos começar mudando o que está sob nosso controle: nossa mentalidade.

 

Liderança e indiferença não combinam

Há que se concordar que educadores(as) ocupam uma posição de liderança. Não aquela em que ele(a) manda e os demais obedecem (referenciada tantas vezes pelo detestável “Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha”), mas, sim, ao fato de que educadores(as) são os responsáveis por guiar o processo de aprendizado, instigar a curiosidade e ajudar na procura por respostas.

A primeira mudança desejável é compreender que uma posição de liderança como essa é incompatível com a indiferença. Indiferença com relação à maneira como os(as) educandos(as) se relacionam entre si, ao uso dos espaços de convivência coletiva, às realidades que se refletem em desafios para a educação.

 

Importa também o que penso sobre mentalidades

Esse segundo tópico pode ser exemplificado pelas diferenças entre o que a pesquisadora norte-americana Carol Dweck chama de “mentalidade fixa” e “mentalidade para o crescimento”, dicotomia identificada por ela após pesquisar adultos e crianças para analisar suas percepções sobre si mesmos(as) e sobre suas habilidades.

A primeira (dita “fixa”), traduz um entendimento de que cada pessoa teria características pré-determinadas, as quais tem pouca possibilidade de serem modificadas ao longo do tempo. Como consequência, pessoas que se veem dessa forma tendem a buscar experiências e situações que comprovem e reafirmem as habilidades que elas, entre aspas, “já sabem que possuem”, além de terem mais dificuldade ao lidar com o fracasso, uma vez que o percebem como um reflexo daquilo que são e não podem modificar.

A mentalidade para o crescimento, por outro lado, seria aquela com foco no aprendizado que uma experiência pode proporcionar, percebendo que fatores como esforço e experiência podem, sim, aprimorar habilidades pessoais.

Segundo Dweck, mais do que pertencer inteiramente a um grupo ou a outro, a maioria das pessoas tende a uma ou a outra mentalidade, a depender da situação. Importante, porém, é reconhecer os efeitos negativos que uma mentalidade mais fixa pode produzir no contexto educacional: ela vai influenciar a maneira como os elogios são feitos (ouve-se “Fulano(a) é inteligente” em vez de “Fulano(a) se saiu bem porque se esforçou bastante”) e corre o risco de limitar a visão dos educandos sobre si mesmos, quando dizemos que uma pessoa é ‘bagunceira’, outra é ‘inteligente’, outra ainda, ‘preguiçosa’ e assim por diante.

 

Se sou parte do problema, também posso fazer parte da solução

Essa mudança acaba sendo complementar à primeira (de que liderança e indiferença são incompatíveis). Trata-se de não sucumbir frente aos problemas e desafios do dia a dia, que tendem a ir nos imobilizando se os encaramos como insolúveis. É claro que muitos dos problemas enfrentados no contexto educacional exigem medidas a longo prazo e não serão resolvidos de imediato. Porém, ignorar a possibilidade de intervenção do ser humano sobre sua própria realidade é trabalhar condicionado pelo determinismo e transmitir aos outros que não podemos nada frente às desigualdades.

Fato é que nem sempre se consegue os resultados almejados. Ainda assim, é importante manter o hábito de questionar o que, então, podemos fazer para interferir minimamente numa realidade que nos desagrada.

 

Tenha consciência de onde está partindo

Nossos pressupostos nem sempre se aplicam a todos(as). Por isso, é importante reconhecer nossos próprios privilégios, preconceitos e saber o nosso lugar de fala, ou seja, de onde estamos partindo. Essa também é uma das formas de evitar a reprodução de violências simbólicas no dia a dia da educação e fugir das armadilhas que a normatividade nos impõe.

 

É importante respeitar a autonomia e as vivências

Respeitar e reconhecer as experiências prévias do(a) educando(a) pode ajudar não só a trazer seu interesse para o tema trabalho, mas também a manter conectados conhecimento e vivência prática. Por outro lado, respeitar sua autonomia é também uma forma de incentivar o próprio desenvolvimento desta, na medida em vai se criando a noção de que as escolhas implicam um grau de responsabilidade.

Nesse sentido, trata-se de abrir mão de uma autoridade impositiva e distante (“Eu sei e você não, então façamos do meu jeito”) em detrimento de uma postura que conduza a um ‘fazer em conjunto’, de modo a fortalecer a sensação de pertencimento de ambas as partes no processo.

Nota: Me atrevo a escrever sobre o tema depois de uma nova experiência à qual estou me lançando junto com o coletivo Parafuso Educomunicação. Trata-se do Parafuso Lab, e que será voltado a educadores e estudantes com interesse em trabalhar educação e diversidade por meio de ações e projetos. Fica aqui o registro a quem possa se interessar em saber mais sobre a iniciativa.

 

*Artigo escrito por Paula Nishizima, jornalista e educomunicadora do coletivo Parafuso Educomunicação. O Parafuso Educom é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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