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Educação e Mídia

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Consciência Negra

A educação midiática deve ser antirracista

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Na luta por um mundo com mais equidade, crianças e jovens precisam aprender a identificar e a não reproduzir racismo dentro e fora das mídias sociais.

No mês da Consciência Negra, é impossível deixarmos de falar sobre como o combate ao racismo e a formação de uma sociedade antirracista passam necessariamente pela escola. Essa discussão, sobretudo, deve considerar a educação midiática. Por quê?

Casos de racismo em instituições de ensino, infelizmente, não são novidade no Brasil. Só o estado de São Paulo nos últimos anos registrou um caso de injúria racial a cada cinco dias. Um levantamento feito pela ONG SOS Racismo, de Belo Horizonte, apontou que 70% das denúncias que chegaram ao conhecimento da entidade aconteceram em escolas públicas ou privadas.

O ensino remoto durante a pandemia não foi impeditivo para que episódios racistas continuassem a acontecer. Um exemplo é o episódio em que uma menina negra sofreu ataque de colegas de um colégio da zona sul do Rio de Janeiro pelo Whatsapp. Em outro caso, em agosto deste ano, as ameaças recebidas por um estudante em um colégio privado da capital paulista continham frases como “preto não presta” e “vai calar a boca ou vou ter que mandar assaltar sua casa inteira?”.

Hoje, a sociedade vive mais conectada como nunca, contexto que foi impulsionado pela pandemia, e isso impacta diretamente as crianças e jovens pretos, que estão mais expostos a esse tipo de discurso de ódio. Se a sociedade é estruturalmente racista, perpetuando e reproduzindo comportamentos que promovem o preconceito racial, com certeza veremos isso refletido nas redes sociais, como mostram os exemplos citados.

As desigualdades são inúmeras. Muito se fala sobre as plataformas digitais darem mais destaque para publicações e conteúdos de pessoas brancas do que pretas, reforçando mais uma vez a estrutura racista a que os usuários das mídias digitais estão submetidos. Denominada como racismo algorítmico, essa prática já foi denunciada por usuários do Twitter e do Google.

O mundo dos influenciadores digitais também expressa essas diferenças. Uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria Black Influence estimou que criadores de conteúdo pretos ganham 12% menos quando são convidados para realizar publicações comerciais em suas páginas. Eles também são menos chamados para ações publicitárias do que influencers brancos.

Tudo isso faz parte do universo de crianças e adolescentes. Por isso, a escola não pode ficar separada das discussões que envolvem as redes e tudo o que acontece nelas. David Buckingham, especialista britânico em mídias, faz o alerta: “Se tratarmos as mídias como triviais, desnecessárias ou apartadas da aprendizagem dos jovens, estaremos relegando a própria educação à irrelevância”. Assim, precisamos educar as crianças para que elas utilizem as redes de forma cidadã, tendo uma vivência digital saudável, com respeito e empatia.

Para que isso aconteça, é fundamental que a escola se abra para a diversidade cultural e social trabalhando o uso das mídias. O Guia da Educação Midiática, lançado recentemente pelo Instituto Palavra Aberta, apresenta atividades práticas que podem ser realizadas para debater racismo estrutural com estudantes de diferentes anos. A partir da análise de filmes e fotografias jornalísticas, por exemplo, é possível discutir os conceitos de visibilidade, estereótipo e empatia. Ainda utilizando o guia, o professor também pode propor que os alunos acompanhem o noticiário em diferentes mídias por um período, e editem fotos de sites de notícias, trocando ou eliminando personagens e buscando apontar a falta de diversidade em situações de poder ou prestígio profissional, levando assim à reflexão sobre representatividade.

É preciso que a escola levante a discussão antirracista, e os meios digitais são uma excelente opção para isso, uma vez que não estão mais separados da nossa vida social. O que fazemos online repercute na nossa vida off-line. Para que tenhamos novas gerações empáticas, éticas e responsáveis, é necessário desenvolvermos a noção de cidadania sem excluir dela o universo das redes. Sejamos todos antirracistas dentro e fora delas.

Texto escrito por Elisa Thobias, educomunicadora e analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta. O Instituto Palavra Aberta colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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