| Foto: Imagem de upklyak no Freepik
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Ao estudar meio ambiente na aula de geografia, estudantes analisam o uso de hashtags para mobilização social, enxergando suas contribuições para a defesa da fauna e da flora dos diferentes territórios. Em biologia, quando o tema são vírus e pandemias, os alunos refletem sobre desinformação e fontes seguras na internet para se prevenirem e combaterem as doenças. Já na literatura, o incentivo é a reflexão sobre técnicas de manipulação nas imagens de autores negros e a discussão sobre os efeitos do racismo estrutural em suas respectivas carreiras.

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Estes exemplos de como a educação midiática atravessa e compõe práticas pedagógicas são todos projetos desenvolvidos no Brasil como conclusão da formação de multiplicadores do EducaMídia, o programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta. Não são iniciativas criadas na Finlândia, país que tomou as manchetes educacionais nas últimas semanas de 2022 por incluir o combate à desinformação no currículo escolar.

Aqui, a educação midiática é um tema que vem ganhando abrangência e urgência nas salas de aula há algum tempo. A própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que aborda elementos do jornalismo em vários momentos, exige que o sistema de ensino básico prepare crianças e jovens brasileiros para enfrentarem os desafios do século XXI. Espera-se que, ao fim do ensino médio, os estudantes tenham habilidades e competências para participar do mundo digital de forma crítica, compartilhando mensagens e opiniões com responsabilidade.

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O desafio é enorme, visto que 67% dos alunos de 15 anos não sabem diferenciar fatos de opiniões, de acordo com dados da OCDE. Nesse sentido, os professores são fundamentais, mas precisam contar com formações continuadas que abordem essas questões, que hoje já são promovidas por diversas organizações e redes de ensino.

Vale ressaltar, por exemplo, o trabalho desenvolvido pelo professor de história Bruno Reis. Usando um plano de aula do EducaMídia, ele encontrou uma forma leve e conectada ao dia a dia das crianças e adolescentes para tratar de temas densos: usar memes.

Em entrevista ao portal Porvir, ele relatou que, “com a criação dos memes, os alunos mudaram sua perspectiva em relação ao conteúdo sobre a Revolução Francesa, porque foi utilizada uma forma diferente de apresentar o conteúdo trabalhado, potencializando habilidades para desenvolver a aprendizagem. Apesar das dificuldades encontradas, mesclar o conteúdo de aula com aspectos midiáticos corrobora a importância de criar nos alunos esse aspecto de produtores de conteúdo, reforçando que essa produção envolve responsabilidade com as produções que consomem e que também compartilham.”

Sua experiência tem tudo a ver com os objetivos da educação midiática, pois incentiva o aluno a desenvolver a autoexpressão e a leitura crítica por meio das mídias. Utilizar ferramentas e formatos capazes de promover uma comunicação eficiente é um ponto a favor da participação cidadã de forma responsável.

Bruno é apenas um entre tantos educadores e educadoras que compreenderam a importância desse tema na formação dos estudantes. Algumas organizações têm promovido ações para apoiar professores como ele. O Palavra Aberta, por exemplo, realiza semestralmente um curso de multiplicadores. O objetivo é capacitar educadores para multiplicar boas práticas de educação midiáticas em seus contextos educacionais. A última edição contou com a participação de professores de todos os estados brasileiros.

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Além disso, trabalha ativamente com ações de advocacy junto ao congresso nacional para a adoção do tema como política pública. Recentemente, a organização fez parte de audiência que discutiu os rumos da Política Nacional de Educação Digital (PL 4513/20), promovida pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT). O instituto também desenvolve ações de educação midiática junto ao público idoso, por meio do programa EducaMídia 60+.

É claro que o Brasil ainda está muito longe dos índices de desenvolvimento de sociedades como a finlandesa ou a norueguesa, incluindo aqueles que avaliam a qualidade da educação básica. Mas é preciso reconhecer os esforços que educadores, organizações do terceiro setor e instituições de ensino realizaram nos últimos anos. Democratizar a educação midiática é uma tarefa urgente e que exige um trabalho colaborativo e investimento do poder público. Em um mundo cada vez mais conectado, desenvolver habilidades midiáticas é vital.

Elisa Thobias é educomunicadora, analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta e colabora voluntariamente para o blog Educação e Mídia da Gazeta do Povo.