Há quem ainda duvida, mas os dias estão demonstrando que a verdade é esta e não tem mais volta: a letra cursiva esta morrendo. Olhamos para ela e vemos seus últimos suspiros e, que bom, poder ver o velho morrendo para que o novo possa surgir. Como diria a poeta: tudo se transformando, para desaparecer. Assim é.
Não podemos creditar a morte da letra cursiva somente ao fato de que as tecnologias vieram pra ficar e aceleraram a morte da escrita. Na verdade, temos sim que dar por parte dessa morte eminente à tecnologia, mas não podemos creditar a ela unicamente o desaparecimento. O que está acontecendo de fato é que, por muitos e muitos anos a letra cursiva no Brasil foi e ainda é, tanto para alunos e sobretudo para alguns professores, moeda de segregação, ou seja, ou se sabia fazê-la ou não se prestava para a atividade cognitiva. Triste.
Acontece que, aos poucos, esta falácia foi se apresentando e com o empoderamento dos alunos no Brasil (alunos avaliando professores, cobrando novas didáticas da escola, querendo conteúdos mais pertinentes, ocupação de escolas, organizações estudantis, cotas e outros) os alunos foram se apossando dos papéis de atores também do processo e esse empoderamento acabou por mostrar que esta questão de letra cursiva é completamente contrária ao discurso inclusivo que percorre o Brasil, por exemplo.
Inclusão e letra cursiva são duas palavras que jamais caminhariam juntas. Assim, percebeu-se logo que ao falar em inclusão, teríamos que automaticamente excluir a obrigatoriedade de várias práticas escolares, incluindo aí a exigência besta e cega de letra cursiva. Daqui a pouco chegaremos à avaliação, presença na escola entre outras. Aguardem.
O outro argumento que eu rechaço aqui é de que a letra cursiva melhora ou aprimora a cognição. Mentira. No Japão, por exemplo, não existe a letra cursiva e até onde sabemos os alunos de lá não sofrem por falta dela. Há outros países no mundo também excluindo está exigência por estarem descobrindo que ela não pertence mais a uma escola deste tempo.
Por último, temos que lembrar aqui que a letra cursiva não é capaz de sozinha desenvolver as competências motoras ou coordenações motoras finas, pelo contrário, ela apenas cobraria das crianças mais uma habilidade inócua e o não “atingimento” dessa levaria mais uma vez a criança à exclusão.
O cuidado que devemos tomar agora enquanto vemos os últimos suspiros da letra cursiva nas escolas de alfabetização é dar outra função aos professores, pois aqueles que só viam ou veem na prática de alfabetização fazer a criança desenhar, a qualquer custo, a letra cursiva, agora podem descobrir um novo conflito e é aí que mora o problema: o professor descobrir mais uma vez que ele pode ficar sem função social.
*Artigo escrito por Geraldo Peçanha de Almeida, Doutor em Letras/Literatura pela UFSC, autor de mais de 50 livros, participou do Projeto de Avaliação em Leitura em Moçambique, uma parceria entre a Alemanha e o país africano. O profissional é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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