A qualidade da educação no Brasil é um tema de constante debate. Seja na arena política ou no campo acadêmico, a discussão frequentemente aponta para os déficits que o país apresenta frente aos seus pares. Temos um rendimento muito inferior ao dos outros países. Tal percepção encontra sustentação nos estudos e pesquisas sobre a qualidade da educação realizados por organizações internacionais, tais como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo. Num ranking de 40 países, o Brasil ocupa a 40ª posição no que concerne à qualidade do ensino fundamental e médio.
Por todos os cantos se proclama que o principal caminho a ser percorrido para melhorarmos a educação brasileira passa pela valorização dos professores, principalmente com aumento na remuneração. E é sobre este assunto que vamos conversar hoje. Afinal, os professores brasileiros ganham mal? De fato, os salários são o empecilho para melhorarmos a qualidade da educação?
Quando comparamos os rendimentos de diferentes categorias profissionais no Brasil, observamos que há grande discrepância entre a remuneração dos professores e a de outros profissionais de nível superior. Segundo dados do Anuário Brasileiro da Educação 2019, a média salarial dos docentes foi de R$ 3.823 no ano passado enquanto a média salarial de profissionais com graduação similar foi de R$ 5.477, uma defasagem de 30%. Quando comparamos a remuneração da categoria com a de profissionais das ciências exatas ou da área da saúde, a diferença supera os 50%. Além disto, o professor perde feio quando avançamos na análise da progressão profissional. A carreira da docência tem poucas perspectivas de crescimento, o que tem desestimulado boa parcela dos que estão atuando no magistério, bem como os que pretendem ou pretendiam ingressar nesta carreira.
O problema acentua-se quando comparamos os salários dos nossos mestres com os de outros países. Os dados da OCDE apontam que a média salarial inicial do professor foi de U$ 13.971,00 anuais para a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio no Brasil em 2018, enquanto a média dos países da OCDE variou de U$ 30.807 para a educação infantil até U$ 34.943,00 para os professores do ensino médio (estes valores foram levantados considerando a paridade de poder de compra entre os países). Mas a diferença se evidencia também quando fazemos a comparação com um país mais próximo, o Chile. Lá, o salário inicial na educação infantil era de U$ 23.429 em 2018.
Então, se melhorarmos apenas os salários dos professores poderemos garantir um crescimento na qualidade da educação em nosso país? Certamente não! Se fizermos o reajuste sem uma revisão das políticas educacionais, sem melhorarmos as condições das escolas, sem investirmos na formação inicial e continuada e sem termos gestores qualificados, corremos o risco de injetarmos um considerável aporte financeiro e não resolvermos a questão.
Evidentemente, são muitas as questões para as quais precisamos nos atentar para melhorar a qualidade da educação pública no Brasil. Mas, sem dúvida alguma, um dos pontos que precisam ser colocados na mesa para a discussão é a remuneração dos professores. Em uma sociedade capitalista, regida pelas leis de mercado, o valor dos salários é um dos mais fortes indicativos da valorização de uma determinada profissão. Os números levantados pelas pesquisas internacionais demonstram a pouca relevância que nós, os brasileiros, damos para os professores. A reversão deste quadro é um dos caminhos para o desenvolvimento de um país mais justo e igualitário e mais em consonância com as práticas educacionais e culturais dos países desenvolvidos.
*Texto escrito por Renato Casagrande, Professor, Presidente da Instituto Casagrande. Doutorando em Educação, Mestre e bacharel em Administração, Licenciado em Matemática e Especialista em Liderança Educacional. Conferencista, Pesquisador e Consultor em Educação e Gestão. Referência nacional na formação de professores, gestores e na geração de resultados para instituições educacionais. Autor de livros e artigos publicados tanto no Brasil, quanto no exterior. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
**Quer saber mais sobre educação, cidadania, responsabilidade social, sustentabilidade e terceiro setor? Acesse nosso site! Acompanhe o Instituto GRPCOM também no Facebook: InstitutoGrpcom, Twitter: @InstitutoGRPCOM e Instagram: instagram.com/institutogrpcom