2019 é o ano em que a internet completa 50 anos. É pouquíssimo tempo quando paramos para pensar na dimensão do impacto que ela teve e tem na nossa vida.
Em apenas cinco décadas, todas as relações sociais, nas mais diversas esferas, sofreram mutações profundas, que redimensionaram as formas como lidamos e enxergamos o mundo.
Não é diferente quando observamos as mudanças profundas pelas quais passaram os veículos de comunicação e informação. Se há alguns anos precisávamos esperar o dia seguinte para saber os detalhes de um evento importante, impressos nas páginas de jornais e revistas após serem apurados, escritos e editados por grandes redações, hoje acompanhamos o desenrolar dos fatos praticamente em tempo real.
Na chamada Era da Informação, jornalista e leitor/telespectador vivenciam os acontecimentos ao mesmo tempo, e é possível encontrar uma infinidade de conteúdos nas redes sociais que não passaram pelo crivo de um repórter ou editor profissional - como um vídeo no WhatsApp, por exemplo, filmado por alguém que estava próximo a um acidente. Ou seja: a digitalização dos meios permitiu que todo nós nos transformássemos em produtores e consumidores de conteúdos, e a fusão desses dois papéis agravou a crise na qual a imprensa tradicional já se encontrava.
Entretanto, é consenso que o imediatismo aprofunda a desinformação, uma vez que, no processo de disseminação de dados, circulam mentiras, boatos e invenções, que se propagam por redes sociais e aplicativos em uma velocidade exponencialmente maior. Tais conteúdos são popularmente chamados de “fake news”, termo bastante problemático e que vem sendo criticado por especialistas por ser amplamente usado, sem nenhum critério.
A priori, se algo é “fake”, não pode ser “news”. Tecnicamente, não existe notícia falsa, visto que textos noticiosos têm autores e devem prezar por serem objetivos e equilibrados, apresentando evidências e citando especialistas.
O que se convencionou chamar de "fake news" são, portanto, inverdades e fabricações espalhadas com intenções altamente questionáveis para contribuir para a onda de desinformação em que vivemos.
Além disso, não é porque não concordamos com algo que esse conteúdo é falso, já que opiniões não podem ser confundidas com fatos, jamais!
O trabalho do jornalista profissional consiste em pesquisar, procurar fontes, entrevistar, confirmar, editar, hierarquizar e, finalmente, divulgar o ocorrido para o público, seja em um site, uma rádio, um jornal, uma revista ou uma emissora de televisão. Um conteúdo jornalístico deve seguir padrões éticos e de confiabilidade mas, ainda assim, como qualquer profissão humana, tal atividade é suscetível a erros, que prejudicam a tão almejada objetividade.
Ao usarmos o termo “fake news”, que é bastante diferente de um erro de reportagem propriamente dito, estamos deslegitimando o trabalho da imprensa profissional - e o processo de descrença nessa instituição tão importante para a democracia é um sério risco.
É preciso recuperar o senso comum de que o chamado “quarto poder” sustenta e fortalece a cidadania e os regimes democráticos à medida em que assegura o direito à informação.
Nesse sentido, a escola tem papel fundamental, sendo que o campo jornalístico midiático é parte importante da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no que se refere ao ensino e aprendizagem da língua portuguesa.
Preparar as crianças e os jovens para aprender com senso crítico e responsabilidade no século 21 exige que eles saibam ler, escrever e interpretar diversos textos midiáticos, podendo valorizar fontes confiáveis, diferenciar gêneros e questionar informações duvidosas. Educação midiática é justamente isso: saber filtrar e dar sentido ao grande fluxo de informação para podermos participar ativamente da sociedade.
Cidadãos mais críticos são menos vulneráveis à manipulação e à desinformação, podendo tomar decisões mais conscientes na hora de se informar. Só assim poderemos lidar de maneira mais crítica, ética e responsável com os próximos 50 anos de internet - e com as grandes transformações que nos aguardam.
*Texto escrito por Mariana Mandelli e Isabella Galante. Mariana é antropóloga, jornalista e coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta, entidade que lidera o EducaMídia - Programa de Educação Midiática. Isabella é estudante de jornalismo na Universidade de São Paulo (USP) e estagiária do Palavra Aberta. O Instituo Palavra aberta colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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