“O melhor que pode fazer um professor quando tenta fazer funcionar um aparato tecnológico e não consegue é pedir ajuda para um aluno. E reconhecer que nesse território os jovens são mais competentes simplesmente porque nasceram com a tecnologia instalada na sociedade e isso muda completamente a visão”. Li essa afirmação, de Emília Ferreiro, educadora argentina reconhecida internacionalmente por seus pensamentos e estudos, especialmente sobre alfabetização, em uma entrevista publicada no portal da Revista Educação. Quando passei meus olhos nesse trecho, retornei a leitura, pois é algo em que acredito e venho falando durante troca de ideias com profissionais da Educação, especialmente das áreas da Educomunicação e da Tecnologia Educacional.
Mas a afirmação é intrigante e levanta o questionamento. Professor e aluno podem trocar de papéis? Provocação essa, muitas vezes, não vista com bons olhos entre os docentes. Participo de um grupo de pesquisa com foco em Tecnologia e Educação. Nossa tarefa, em um dos encontros, era sugerir ações para que o uso das novas tecnologias ocorresse de forma efetiva dentro da escola. Levantei a hipótese de que o professor poderia aprender com o aluno a dominar a técnica das ferramentas tecnológicas, para então inseri-las em sua metodologia, em sua proposta pedagógica. No entanto, ainda existe uma barreira do professor, um receio com relação a “abrir mão do seu poder social”, exercido quando está à frente da turma, em pé, expondo o conhecimento detido. Seria medo de perder a sua autoridade? Quando expus essa hipótese, escutei um contra-argumento de um dos integrantes do grupo: “essa situação, do professor aprender com o aluno, precisa tomar cuidado, pois daqui a pouco o aluno estará sabendo mais que professor”. E qual é o problema do aluno saber mais que o professor no que diz respeito às novas tecnologias? Esse ponto não poderia ser um diferencial para envolver a turma em projetos em que a sua produção realmente faça sentido, transformando os alunos em protagonistas de suas ações? Veja aqui o exemplo de uma escola municipal do Rio de Janeiro, que criou um projeto de monitoria tecnológica. Mais de 30 alunos, do 2o ao 5o ano, são tutores dos colegas e dos professores, ajudando a criar blogs, perfis em redes sociais e grupos de discussão.
O contexto apresentado no vídeo traduz a discussão levantada com esse post, fazendo relação com outra afirmação de Emília Ferreiro, que resgata o momento de quando as novas tecnologias no universo educacional eram, além de novidades, assustadoras: “os alunos apaixonados pelas novas tecnologias e sem medo frente a elas e os professores com muito temor pedindo uma capacitação e não deixando serem ensinados pelos alunos. No espaço pessoal, essas mesmas professoras, quando tentavam usar o computador e não conseguiam, chamavam os filhos, os jovens. Mas no espaço escolar elas não podiam recorrer aos jovens porque perdiam a autoridade. Todavia, estamos em um momento em que os jovens são muito mais espertos que os adultos em relação às novas tecnologias e é natural que assim seja”.
Patrícia Melo é jornalista desde 2001 e há oito anos atua em benefício da Educação por meio da Comunicação. Hoje, também é empreendedora, com a Presença – Comunicação Educacional, que tem como objetivo a produção de textos, entrevistas, reportagens e projetos comunicacionais direcionados especialmente ao universo educacional. Dessa forma, contribui para um diálogo mais consistente e criativo entre a Escola e a Família.
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