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Dados de violência, documentos sobre situações de violação de direitos humanos e a preocupação pessoal com um grupo ou comunidade podem impulsionar a criação de um projeto ou programa. As organizações detectam o problema e propõem um conjunto de ações para interferir naquela realidade. Daí em diante as coisas são mais difíceis.

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No Brasil enfrentamos uma cultura de doação ainda muito tímida. O país ficou em 68° lugar no Índice de Solidariedade Mundial (World Giving Index 2016) entre os 140 países analisados. Criado pela organização não governamental Charities Aid Foundation, a pesquisa registra o número de pessoas que ajudaram um estranho no mês anterior ao levantamento, doaram dinheiro para uma ONG ou fizeram trabalho voluntário.

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Dentre os 1.004 brasileiros entrevistados em outubro e novembro de 2015 pela pesquisa, apenas 30% colaboraram financeiramente com uma organização. Fazendo a habitual comparação com os Estados Unidos, que ocupa o 2° lugar no ranking, a diferença é gritante. A porcentagem de estadunidenses que doaram dinheiro é de 63%, ou seja, mais da metade em relação aos brasileiros.

 

Uma sociedade com maior cultura de doação para financiamento de projetos, sejam eles sociais ou não, facilitaria a realização de qualquer proposta de intervenção. Principalmente às direcionadas à cultura, educação, participação social e comunicação. Explico: A grande maioria das organizações dependem atualmente de recursos públicos ou privados, portanto, submetem suas propostas de transformação social a editais ou chamadas públicas. Por conta disso, suas ações sofrem interferência de natureza política, orçamentária, burocrática e/ou temporal.

 

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Em 5 anos de trabalho acumulado na criação e implementação de projetos de educomunicação, posso dizer que já tive que administrar os problemas gerados por cada um desses fatores. Às vezes, com um pouco de sorte, a gente é abalado somente por um deles, mas isto é uma exceção, uma vez que eles agem como forças correlacionadas. Mas o fato é que, para quem pretende atuar em projetos sociais (de educomunicação ou não), é importante compreender como os recursos financeiros interferem na dinâmica de seu trabalho, da organização que atua e na relação com o seu público.

 

A prosa aqui será sobre alguns desafios que encontramos na parte orçamentária. Porém, aviso que a interferência política e burocrática são as duas questões mais complicadas durante a execução de um projeto. Elas exigem um post à parte.

 

 Ser “de Humanas” não te livra de fazer cálculos

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Profissionais de comunicação e educação que atuam ou pretendem atuar no  reduto das organizações não governamentais (o chamado “terceiro setor”), precisam somar despesas e prestar contas. Sei que é difícil se imaginar na tarefa “árdua” de analisar itens de orçamento. Porém, ainda que haja na organização alguém que faça isso, ao ser responsável pela criação e/ou execução do projeto, cabe a você indicar o que é necessário para fazer uma oficina de fotografia, por exemplo. Lembre-se, alguém que é da área administrativa não sabe quais equipamentos um educomunicador utiliza. Indicar qualquer câmera fotográfica não facilita a pesquisa de preço.

 

É importante saber as diferenças de itens custeados pelo poder público e pela iniciativa privada. Ao se negar a colaborar na criação ou mesmo revisão do orçamento, saiba que o maior prejudicado é sempre você. Afinal, seja em financiamento público ou privado, despesas não contidas no orçamento apresentando com o texto do projeto não podem ser executadas, ainda que haja dinheiro em conta. As consequências de fazer uma despesa sem autorização do financiador podem levar a organização a fechar as portas. Isso não é hipérbole, acontece muito quando os recursos são provenientes do poder público.

 

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O orçamento é seu maior amigo e inimigo

 

Infelizmente, muitas organizações são reféns da cultura da adaptação de projetos sociais de acordo com os critérios do financiador. Com isso, é corriqueira a sensação de limitação. Acontece porque na hora de criar o projeto, reduzem-se os custos para atender o valor limite oferecido pelo patrocinador. Porém, ao fazer isso, já se sabe que será necessário buscar outras formas de viabilizar os itens que faltaram ou encarar o “fazer mais com menos”. Muitas ações se perdem no meio do caminho por serem alteradas ou excluídas por conta do custo.

 

Há também a situação de ter feito o projeto dentro do plano ideal e, por conta do atraso no repasse de recursos, enfrentar o problema da defasagem do orçamento. A notícia boa é que o profissional pode superar parte deste problema se for ou tiver na sua equipe um(a) bom/boa negociador(a). Nos casos em que o financiador exige a apresentação de pelo menos três orçamentos para a compra, é possível utilizar o preço da concorrência para baixar o valor do item junto a fornecedores, especialmente se a organização possui um tempo de relacionamento grande com alguma empresa em particular. Mas, acima de tudo, é imprescindível cumprir a obrigatoriedade da apresentação de três pesquisa de preço. Na dúvida, vale consultar o setor responsável por avaliar a prestação de contas de projetos apoiados pelo edital ou chamada pública.

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Em projetos de audiovisual e fotografia na Parafuso Educomunicação, já tivemos desafios com  a defasagem no orçamento custeado com recursos públicos. É muito difícil garantir a compra de equipamentos porque raramente estes itens são financiados e, depois que a gente consegue, por conta da demora no recebimento da verba, podemos nos deparar com o aumento de preços dos produtos. Sim, a gente sempre fica torcendo para que o dólar se mantenha estável para não alterar bruscamente os valores de computadores, câmeras importadas e por aí vai.

 

O elo de amizade com o orçamento pode ser tão constante quanto o de inimizade. A partir do momento que o encarar como parte do seu trabalho, busque alternativas para superar as adversidades. Assim, cria-se uma postura de reação diante do que pode parecer catastrófico. É neste cenário que as parcerias se tornam essenciais. Mas aqui cabe citá-la como elemento de colaboração para reduzir o impacto causado pela falta de recursos.

 

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Criar, implementar e avaliar te levam a acertar

 

A todo tempo temos limitações, mas ainda assim é possível tirar ideias do papel. Neste processo, saber como lidar com delimitações impostas a curto, médio e longo prazo te ajuda a solucionar os problemas criados pela falta de recurso. É imprescindível refletir se a formação que tem é suficiente para atender a realidade do mercado de trabalho.

 

A gradução em jornalismo, por exemplo, te instrumentaliza para a produção de conteúdos nas diferentes linguagens, operação de equipamentos e softwares primordiais para seu trabalho. Contudo, é raro encontrar disciplinas que colaborarem para você saber como é criar, gerenciar, executar e avaliar um projeto. Há profissionais que vão para o terceiro setor sem entender que o desenvolvimento da sua carreira na ONG é totalmente impactada por essa lógica.

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É preciso que profissionais que queiram trabalhar com projetos sociais busquem complementar sua formação na área de gestão. E, além disso, ter mais curiosidade sobre como as iniciativas são criadas e implementadas. A verdade é que, independente da área de humanas na qual você atua, se algum dia pensou em trabalhar em ONGs esse post serve para você. Participar da criação do projeto no qual você trabalhará te faz compreender mais sobre as engrenagens que te prendem ao assumir um projeto, independentemente de sua natureza. Assim, conhecendo tais engrenagens, fica mais fácil de saber como dominá-las, ao invés de se tornar refém delas 😉

 

*Artigo escrito por Juliana Cordeiro, jornalista e educomunicadora do coletivo Parafuso Educomunicação. O Parafuso Educom é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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