Entender o papel da imprensa na sociedade é fundamental para formação de melhores leitores e cidadãos
Junho, mês em que temos duas efemérides ligadas à imprensa no Brasil — o Dia da Imprensa (01/06) e o Dia da Liberdade de Imprensa (07/06) —, é um excelente período para educadores trabalharem o jornalismo em sala de aula.
O tema está contemplado no campo jornalístico-midiático da BNCC, dentro da disciplina de língua portuguesa. Porém, os processos de pesquisa, apuração, síntese e produção da informação, que um jornalista profissional executa, podem ser estratégias educativas eficazes em qualquer disciplina.
Isso significa que o que chamamos de método jornalístico também pode ser um meio de aprendizagem. De quebra, ainda leva para dentro da escola o debate acerca das notícias e dos fatos, formando leitores mais críticos e conscientes quanto às informações que consomem.
Na prática, os educadores podem incentivar os alunos a terem o hábito de interrogar a notícia sempre que se depararem com ela. Qual é a fonte? Quem está por trás dessa informação? Onde mais ela foi publicada? Qual é a evidência? Essas são perguntas simples que ajudam na reflexão sobre o papel de cada um no mundo conectado.
Atividades de leitura das mídias também podem ajudar os alunos a entenderem as intenções por trás de cada texto, fazendo com que eles sejam capazes de diferenciarem fatos de opiniões, de reconhecerem uma propaganda e de entenderem o que é uma sátira ou um clickbait.
Um exemplo apresentado pelo Guia da Educação Midiática, publicado pelo Instituto Palavra Aberta, gestor do EducaMídia, é apresentar aos alunos a comparação entre duas notícias que apresentem lados opostos de um argumento científico. A partir daí, o educador avalia, junto com os estudantes, a credibilidade das fontes, apontando falsas equivalências e identificando técnicas de manipulação para concluir qual dos argumentos tem mais peso.
Tornar os alunos protagonistas de produções midiáticas também é um caminho para que eles compreendam a importância do processo jornalístico. O trabalho desenvolvido pela Escola Municipal João Papa Sobrinho, em Santos (SP), mostra como essa ideia pode ser aplicada. Lá, a oficina de rádio, TV e jornal incentiva os alunos a produzirem um jornal impresso, um programa televisivo e uma atração de rádio. Os estudantes aprendem as funções jornalísticas, como elaboração de pauta, produção, fotografia, reportagem, edição e texto e de imagem, promovendo a cidadania e a integração entre eles.
Permitir a publicação de conteúdo para uma audiência real, levando o aluno a entender a comunicação como forma de participação responsável e atuação positiva na sociedade, faz com que a escola cumpra o seu papel de formação de cidadãos.
Vale destacar que, se a tecnologia não estiver presente na escola, tendo em vista que o Brasil é um país extremamente desigual, os educadores podem realizar essas atividades de “modo offline”, com jornais, revistas, papel e lápis. O importante é promover a conversa sobre o tema e, consequentemente, desenvolver o pensamento crítico entre os estudantes.
Em um contexto de tanta informação e desinformação como o que vivemos, as técnicas jornalísticas precisam ser cada vez mais inseridas nos contextos educacionais, nas mais diversas disciplinas. Dessa forma, os alunos estarão preparados para viver em uma sociedade cada vez mais conectada, utilizando a tecnologia para promover conteúdos de qualidade, combatendo as “fake news” e, claro, exercendo a cidadania.
Elisa Thobias é educomunicadora formada pela Universidade de São Paulo (USP) e analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta, colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.
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