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Em tempos de pandemia, a habilidade de entender de forma clara as informações a que temos acesso é fundamental para evitar a disseminação de mensagens falsas ou imprecisas. Durante esse período, os gráficos têm sido de grande ajuda para que os veículos de comunicação e os órgãos de saúde noticiem e contextualizem o andamento da crise sanitária. Isso fica evidente quando lembramos que grande parte do que se sabe sobre o novo coronavírus chegou até a população por meio de tabelas, gráficos e mapas interativos.
Preparar crianças e jovens para compreender e produzir esse tipo de material é uma tarefa que pode e deve ser desenvolvida dentro do espaço escolar. O hábito de ler e interpretar mensagens em diferentes plataformas e gêneros, especialmente gráficos, contribui para que os alunos conheçam e utilizem conceitos como autoria, contexto e credibilidade.
Por que usamos gráficos para transmitir informações?
Segundo a Sociedade Brasileira de Design de Informação, o design da informação tem o objetivo de otimizar o processo de aquisição de conteúdos, dados, narrativas e mensagens por meio de elementos visuais. Ou seja, os gráficos, infográficos e vídeos infográficos apresentam informações quantitativas para facilitar a compreensão dos leitores.
Em geral, um infográfico complementa uma matéria jornalística, rica em informações visuais, onde os textos, os dados e o design dialogam. Um exemplo é o jornal Nexo, que em sua seção Gráfico apresenta uma série de reportagens que utilizam o design para ajudar a transformar dados em informações com significado para o seu público.
Os gráficos são imagens que podem informar melhor que um texto, aumentando assim o seu acesso para mais públicos. Neste momento em que a sociedade é exposta a informações vindas de todos os lados, diminuir o esforço para a compreensão de dados por meio de apelo visual é algo muito positivo. Contar histórias utilizando os números gera empatia e oferece contexto para os leitores.
Como utilizar essa ferramenta na sala de aula?
O importante ao analisar um gráfico é desenvolver uma postura reflexiva frente à mensagem que ele traz, seja ela jornalística ou não. Diante da leitura de mapas interativos ou gráficos, é importante que o aluno questione:
- O título afirma a mesma coisa que os dados?
- A forma de dispor os dados corresponde à realidade?
- Há algum recorte específico da realidade que foi deixado de lado?
- Dados são informações incontestáveis?
- A fonte dos dados está citada? De onde vêm os números?
- Olhe para os eixos. As escalas estão adequadas? Os números começam em zero?
Para a leitura de imagens e vídeos, interrogar a mensagem também é essencial para que o aluno desenvolva a habilidade de ler criticamente as informações que chegam até ele. Perguntas como “quem criou essa imagem?”, “com que intenção?”, “a imagem foi manipulada?”, “quando ela foi criada?” e outras contribuem muito para que o estudante reflita sobre a quantidade de informações disponíveis e se elas estão ali dispostas para que o leitor pense de determinada forma.
Ao desenvolver um gráfico para a turma, é importante que o educador utilize sempre dados de fontes confiáveis, pensando em como transmitir as informações. Também deve refletir se utilizará algum tipo de ilustração, qual será o tom de voz adequado e como preparar a história de acordo com aquilo que se pretende contar, levando em consideração o tamanho e a distribuição espacial. Ferramentas como o Flourish são intuitivas e podem ajudar na produção de gráficos e mapas interativos.
Cuidado: é possível mentir com dados
É importante alertar os estudantes de que a forma como os dados são apresentados influencia diretamente na interpretação do gráfico. É possível mentir com dados, principalmente quando eles são comparados de forma desproporcional, alterando escalas, omitindo contextos, períodos ou quem produziu os índices. Um exemplo é a vacinação contra a Covid-19 no Brasil. O País é o 4° em número absoluto de vacinados, mas na relação por 100 habitantes, ocupa a posição 66ª.
Um recurso interessante para o trabalho didático com a leitura crítica é o plano de aula “Leitura Reflexiva de Imagens”, produzido pela equipe EducaMídia, projeto do Instituto Palavra Aberta. Esse plano tem como objetivo evidenciar as imagens como textos que fornecem informações e possibilidades interpretativas de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
O design contribui muito para a leitura crítica das mensagens que alcançam a sociedade a todo o momento, estejam elas no ambiente online ou offline. Oferecer ferramentas para que os alunos possam compreender e utilizar o ambiente midiático de maneira saudável é uma tarefa com benefícios a longo prazo e, por isso mesmo, deve ser incentivada pela escola.
Elisa Thobias é educomunicadora formada pela Universidade de São Paulo (USP), analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta e colabora voluntariamente para o Blog Educação & Mídia.