Além do perigo do contato excessivo com interfaces tecnológicas, existe outra tendência que espreita as crianças: o manuseio de brinquedos feitos apenas de plástico. Muitas vezes pensando em evitar riscos, os pais e professores acabam deixando de lado materiais riquíssimos para a experiência e o conhecimento.
“Se você coloca a criança dentro de uma sala de aula em que tudo é feito de plástico, qual será o contato dela com o mundo?”, questiona a pedagoga especializada em Educação Infantil Marianna Canova.
“A criança que tem tudo muito padronizado entra em choque quando tem contato com situações diferentes”, salienta Marianna. “E o processo de aprendizado é assim: para aprender, é preciso se colocar no lugar do outro, do novo e do que é diferente.”
Para evitar esse tipo de fobia, ela vem estudando o uso de diferentes tipos de materiais para crianças de 4 meses aos 6 anos. “Tudo bem oferecer materiais diferenciados do papel e giz para crianças pequenas com adequada supervisão. As crianças fazem maravilhas com argila, arame, sementes e gravetos”, conta a pedagoga.
No livro “O sentido dos sentidos”, João Duarte Júnior fala sobre como é importante para as crianças colocar a mão na massa. “É muito bom para a criança se sentir útil, criar ela mesma as coisas que ficarão ao seu redor. Isso desenvolve a sensibilidade”, explica Marianna.
“Ter contato com a diversidade de materiais possibilita desenvolver muito mais as habilidades do que se ela só tiver contato com plástico”, resume a pedagoga. “A criança terá os sentidos muito mais aguçados e irá desenvolver mais a criatividade, além de conhecer o mundo de forma muito mais real.”
Papel adesivo e até lixa
Para implementar esse contato com vários materiais, uma professora de alunos de 3 a 4 anos supervisionada por Marianna teve a ideia de criar uma parede toda com papel adesivo – com o lado que gruda para fora. Nela, as crianças têm liberdade de experimentar a sensação “grudenta” e colar tudo que desejarem. Aliás, você já tentou colar um fio de barbante? Não é tão fácil, exige habilidade! Além de ser excelente para fazer o “movimento de pinça”, fundamental para desenvolver a escrita mais tarde.
Para os bebês, Marianna lembra que os objetos e brinquedos normalmente são feitos de plástico ou pano, ou seja: eles acabam não conhecendo outros materiais. “Se você coloca esse bebê na grama ou na areia, ele entra em pânico”, lamenta Marianna. “E quando vai comer e se suja, não gosta, já quer que troque a roupa”, exemplifica.
Quando a criança experimenta mais na primeira infância, tende a não se sentir tão afrontada no futuro em situações desafiadoras. Os diferentes tipos de material também estão sendo estudados e trabalhados pela pedagoga para servir de ornamento, como ambientação do refeitório, por exemplo, tudo feito pelas próprias crianças. Além de ficar lindo, faz com que elas se sintam capazes, pertencentes e responsáveis pelo ambiente escolar.
Sugestões de material para serem usados dentro e fora da sala de aula: madeira, plástico bolha, papel adesivo, temperos, sementes, bolinha de gel, arame, espetinho, argila, fubá, pedras, gelo, papel camurça, folhas secas… e o que mais a criatividade inventar.
*Texto escrito por Marianna da Cunha Canova Costa, pedagoga, psicopedagoga, mestre em Educação pela UFPR. Diretora pedagógica do berçário e Educação Infantil Peixinho Dourado. Pesquisa e trabalha a educação infantil há mais de 20 anos e integra a CURTE – Curitiba em Rede para Transformação Educacional.
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