No começo deste mês, a Base Nacional Comum Curricular do novo ensino médio foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação, com praticamente unanimidade entre os avaliadores. A base torna-se um referencial obrigatório, composto de um conjunto de competências e habilidades que nortearão a construção dos currículos das escolas neste novo contexto.
As instituições de ensino terão até 2022 para realizarem a adaptação. Com isso, o novo ensino médio começa a se concretizar. Um rompimento de paradigmas que a educação brasileira não está acostumada a enfrentar. Nosso pensamento conservador e/ou ideológico segurou possibilidades de mudanças por muito tempo (é só olharmos as escolas monacais do século VIII para entendermos de quanto tempo estamos falando). Chegamos a um momento em que não há mais como continuarmos neste status quo.
Uma das mudanças essenciais foi a alteração da organização curricular de disciplinas para áreas do conhecimento, chancelando o conceito de que o saber não é fragmentado. Aprendemos com a experiência, com a experimentação, com o erro e o acerto, tomadas de decisões e mitigação de consequências. Para isso, nosso olhar precisa ser sistêmico, nossa análise e escolhas precisam estar pautadas em contextos e não em fatos isolados. Com a aplicação de uma metodologia que preze pela solução de problemas conectados à realidade, esta nova organização do currículo pode ser o terreno fértil para tornar possível o desenvolvimento de habilidades mais complexas do aluno, como analisar, avaliar a informação, defender opiniões e criar, propondo soluções alternativas. E ele não ser capaz de fazer isto é muito sério! É só olharmos a nossa posição no último PISA. Em leitura e interpretação, por exemplo, metade dos nossos alunos está abaixo do nível básico (básico!) de proficiência (OCDE/Pisa).
Outra mudança importante, além da criação da base comum para todas as escolas, foi a inserção de itinerários formativos. A possibilidade de escolha torna o ensino médio mais atrativo para o adolescente, aumentando seu interesse em se aprofundar na área com a qual mais se identifica, sem deixar de estudar as demais áreas na base comum, porém em menor nível de aprofundamento. Fortalecer este protagonismo pode auxiliar na melhoria dos resultados de aprendizagem e diminuir o número de alunos que estão fora da escola, que hoje passa de um milhão. Portanto, nos três anos, até 1.800 horas serão dedicadas à base comum e 1.200 horas para o itinerário formativo, e o aluno pode escolher mais de um, se desejar. Uma das novidades é a educação profissional como um dos itinerários possíveis.
É claro que o novo modelo do ensino médio necessita de cuidados. Rever o ENEM é um deles. Outro ponto essencial é a formação dos professores. Será necessário preparar estes profissionais para esta mudança e discutir com eles as melhores alternativas para colocá-la em prática. Mudar o mindset em sala de aula, permitindo-se mediar ao invés de transmitir conteúdo acumulado, será ponto chave neste novo modelo para os docentes. A sacada é ensinar aos alunos habilidades para aprenderem melhor aquilo que estão investigando, a descobrirem as alternativas de solução por eles mesmos. O professor terá que entrar de cabeça na onda das soft skills e, mais do que nunca, trabalhar com seus pares para contextualizar suas áreas do conhecimento e propor as atividades. Sim, este ensino médio está mais integrado e promoverá mais trabalho em equipe entre os professores, mais complexidade no planejamento das aulas e mais estratégia de ensino. Requer, realmente (não que antes não fosse necessário), formação pedagógica pesada e coerente com as mudanças necessárias para este novo século.
Há itens do modelo que ainda precisam ser discutidos e ajustados, como qualquer nova proposta. No entanto, será uma excelente oportunidade de proporcionar aos nossos adolescentes a possibilidade de se interessarem pela aprendizagem, de terem a escola colada e alinhada à realidade, que seja útil, coerente e que preze por uma educação de excelência.
*Artigo escrito por Giovana Chimentão Punhagui, pedagoga e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), certificada pela Universidade de Cambridge para o ensino de língua inglesa e formação de professores. Gerente Executiva de Educação do Sistema Fiep. O SESI, faz parte do sistema Fiep e colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.
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